Sou Cultura viva, pulsando no compasso da bateria! Sou sangue do gigante Brasil!

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terça-feira, 1 de novembro de 2011

A Imaginação e a História!


A história mais pura foi levada à avenida pela Unidos do Viradouro em 1995 pelas mãos do gênio Joãosinho 30. O enredo foi "O Rei e os três espantos de Debret!", uma fábula criada pelo carnavalesco contando um pouco sobre Jean Baptiste Debret, integrante da missão artística francesa trazida ao Brasil por D. João quando da vinda da família real portuguesa ao Brasil em 1808.
                                                                  Jean Baptiste Debret

O enredo é uma mescla de elementos históricos e imaginários. Nada mais original do que o carnaval para realizar essa façanha. Mas, usaremos a sinopse do enredo desenvolvido por Joãosinho 30, para mostrar que se pode aprender sobre história de uma forma simples, gostosa e ao mesmo tempo delirar, fantasiar, criar, sempre com base na realidade.

SINOPSE 1995

"O Rei e os três espantos de Debret"

            O Rei é D. João VI. Em 1808, toda a Corte Portuguesa ameaçada por Napoleão, foi transferida para o Rio de Janeiro. Funda-se o novo Reino de Portugal, Algarve e Brasil. Em 1816, o Rei providenciou a formação de um grupo de artistas franceses para implantar artes eruditas nas terras brasileiras. É organizada, então, a famosa “Missão Francesa”. Entre outras personalidades, destaca-se a figura de DEBRET, professor de Pintura Histórica. Veio com a finalidade de ensinar sua arte e também fundar a Escola de Belas Artes. Aqui chegando, DEBRET documentou, principalmente em aquarelas, tudo o que viu no Rio e nos outros Estados. Começou pintando a natureza, flores, frutos e, sobretudo, os costumes dos índios, negros e brancos. Este trabalho toma-se mais importante pela sua pesquisa. É uma documentação valiosa sobre a História do Brasil-Império.
                           
Depois de um longo tempo de trabalho, DEBRET volta à França e em Paris publica os três volumes de sua obra “A Viagem Pitoresca e Histórica do Brasil”. DEBRET era um pintor completamente envolvido com o Romantismo Francês. Sua visão sobre o Brasil não poderia deixar de ser romântica.
 
Esta situação de misturar sentimentos com realidade permitiu, ao carnavalesco, uma ampla liberdade de criar o enredo ‘O REI E OS TRÊS ESPANTOS DE DEBRET”.Que enredo é este? O Rei, já sabemos quem é. DEBRET conhecemos sua vida e suas obras. E os três espantos? Vamos por ordem.
            Conforme DEBRET mesmo confessa em suas anotações, ao aqui chegar, vindo de uma Europa civilizada, ele levou um grande espanto. Jamais tinha visto florestas virgens, nem terras com tanta riqueza mineral, vegetal e animal. Nem o radioso Sol tropical.
            Admirou-se, sobretudo, vendo o índio, o negro e o branco na mistura de raças. Esse primeiro espanto é história com “h” e está baseado na obra de DEBRET. É a primeira parte do enredo. O Pitoresco e o Histórico. 
                                                                       A letra do samba!

E o segundo espanto’? Bem, este já é estória com “e”.
            Invenção e criatividade carnavalesca que o Carnaval é para isto mesmo. Então, vejamos: O tempo passou depois que DEBRET saiu do Brasil no século XIX. Foi descansar no Céu, ele merecia. Em nossa época a alma de DEBRET voltar a reencarnar na sua querida França. E, na bela e imponente Paris dos dias atuais, acontece o segundo grande espanto deste Homem que renasceu com o espírito de DEBRET.
            Ao ler os jornais, revistas e ver a televisão este Homem fica chocado, ao saber das notícias do Brasil que só falam de matanças de índios, crianças, devastações de florestas e outras calamidades. Somente isto. Nada de bom e noticiado. Como um simples cidadão, mas, tendo na alma as lembranças de sua vida anterior, passada no Brasil, este Homem resolve vir ao nosso país. Quer saber a verdade pessoalmente. Chegando ao Rio de Janeiro, vê que muitas coisas mudaram. Algumas das notícias que lia nos jornais e via nas Tv’s, eram verdades. Mas o Brasil é muito mais que apenas calamidades. O Brasil é uma grande potência com desigualdades na sua evolução. DEBRET respira aliviado. Fica um pouco atordoado ao ver nas ruas do Rio aqueles mesmos vendedores que existiram no século XIX. Com mudanças incríveis. No lugar do vendedor de peru, cerâmica ou flores naturais, agora, os vendedores chamados de camelôs vendem eletrodomésticos, radinhos de pilha, relógios, flores de plásticos etc. Sua cabeça fica mais aturdida quando vê a nova moeda o Real.



     Lembra-se do Brasil-Império. Vê camelôs com roupagem de nobreza. Muitos são diplomados em Direito, Medicina, etc. Encontra o povo reagindo com as mazelas do país. Sente grandes mudanças, e é envolvido por uma estonteante euforia. O povo vibra com as nossas vitórias em muitos esportes internacionais. É a garra de uma juventude que transformará esta nação. Prenúncio de uma nova civilização no alvorecer do terceiro milênio. Ainda ouve-se, no ar, a voz de 160 milhões de brasileiros gritando: BRASIL, BRASIL, BRASIL. É CAMPEÃO, CAMPEÃO! É de arrepiar. DEBRET fica emocionado. A imagem do Brasil está resgatada.
E o terceiro espanto? 
Aconteceu no carnaval. Este turista francês com a alma de DEBRET, não poderia perder o maior espetáculo da Terra. Foi para a arquibancada da Marquês de Sapucaí assistir ao desfile das Escolas de Samba. Maravilhou-se com todas. Mas faltava a última, como chave de ouro desta grandiosa festa. O coração daquele turista francês, palpitou mais forte quando percebeu pelas alegorias, figurinos e samba que esta vibrante e bela Escola falava dele. Falava de DEBRET e sua extraordinária presença no Brasil no século XIX. Aquele simples Homem comoveu-se até as lágrimas quando lhe traduziram a letra do samba que dizia:

                “Vai raiar o dia
                o meu terceiro espanto aconteceu
                eu sou DEBRET... A minha arte é fantasia
                Explode VIRADOURO... O CARNAVAL SOU EU.”

Joãosinho Trinta

Este enredo demonstra o quanto o desfile das escolas de samba serve como material de análise das ciências humanas, uma vez que aborda temáticas históricas com fidelidade, exatidão, pesquisa séria e comprometida, além de dialogar com outras áreas humanas como a sociologia, filosofia, e assim por diante. Uma forma popular de desenvolvimento de relações e produção de conhecimento ao ar livre, aberto a todos os públicos, retransmitido mundialmente pela mesma TV que ao longo do ano criticamos por nos apresentar materiais de baixa qualidade. 
Muitos ao se aproximar a época do carnaval, porém, não se dão conta da imensidão e do potencial do evento, resumindo a festa à exposição de corpos e danças sensuais. Infelizmente esse pensamento pobre e limitado se espalha pelo país. Este blog se propõe a analisar um outro lado desta festa POPULAR, e friso bem o caráter popular porque os artistas das escolas de samba, que verdadeiramente fazem essa festa, são em sua maioria das comunidades das escolas, ou alguém vai querer dizer que as baianas são turistas norte americanas que pagam para desfilar, ou ainda que mestre-salas e porta-bandeiras são importados da Europa,  acredito que não. 
Jamais fecharemos os olhos à industrialização do evento e à entrada do modelo capitalista em algumas escolas e mesmo em relação à mercadoria que vem se tornando o carnaval, mas a essência é POPULAR! E isso nós, amantes do carnaval jamais deixaremos de lembrar, as origens, e como professor de história, farei meu papel, pois tenho memória e valorizo as raízes desse país. 
Obrigado a todos e boa semana!