Sou Cultura viva, pulsando no compasso da bateria! Sou sangue do gigante Brasil!

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domingo, 29 de maio de 2011

Seja quem for... Olhai por nós!

A religião é sempre um tema muito polêmico, ainda mais em um país tão acolhedor à novas crenças e manifestações. Ao longo de nossa história fomos obrigados a aprender muitas delas, outras foram sendo trazidas aos poucos, de modo mais harmônico. 
Esse assunto; a religiosidade do nosso povo, já foi retratado diversas vezes nos desfiles das escolas de samba pelo país, mas sempre tentamos escolher um enredo que sintetize o tema. Essa semana a Mocidade Independente de Padre Miguel se apresenta no blog com o enredo "Padre Miguel, Olhai por nós!", de 1995. 
Os áureos tempos da Mocidade, a década de 90, que parecem estar prestes a ressurgir. O nome da escola já representa uma introdução ao enredo. 
Vamos ver a letra da música, muito bem levada na avenida por Wander Pires, hoje na Porto da Pedra. 

Bravos navegantes portugueses
Encontraram o eldorado tropical, nosso chão
Rezaram a primeira missa,
abrindo as portas pra religião
mas o dono da terra, Índio Tupi
se admirou, sem nada entender
confundiram o seu credo natural
suas lendas e seu jeito de viver
Vieram os negros africanos
com seus tambores, orixás
e suas manifestações
Quantos imigrantes te abraçaram, mãe gentil
trazendo novas crenças pro Brasil
Aí, no meu país em louvação
sagrou-se a mistificação
com tantas preces e a miscigenação


Com a bandeira do Divino
com o reisado me encantei
na Lavagem do Bonfim,
na Cavalhada delirei
Padre Cícero e os romeiros,
quanta emoção
a fé se espalhando no sertão


é maravilhosa, é fascinante, é sedução
a mídia anunciando
e provocando tentação
o paraíso do futuro é aqui
com a nova era que virá
e hoje a Mocidade,
devota de paixão
te canta assim,
em forma de oração


Padre Miguel, Padre Miguel
Olhai por nós, olhai por nós
Se liga nessa gente tão sofrida, meu senhor
Tá sempre aguardando a sua voz


Os portugueses, sempre eles, trouxeram aquela cruz e rezaram a tal primeira missa em 26 de abril, fundando assim a história do catolicismo no Brasil. Nada demais, se através disso não tivessem suprimido boa parte da "religiosidade", se assim podemos chamar, dos indígenas. Segundo palavras do enredo da Escola: 


 "Diante do cenário de grande beleza das praias e das matas selvagens, os descobridores pensaram estar diante do paraíso perdido. Era necessário tomar posse da terra e consagrá-la à fé religiosa que os trouxeram até ali. Foi erguido um altar, levantada a cruz e rezada a primeira missa. Estava implantada para sempre a Cruz da Ordem de Cristo, na nova terra a que chamariam Brasil.
            A Cruz foi o testemunho da fé portuguesa, dos seus destemidos navegadores. Foi também a marca de uma religiosidade estranha aos nativos do litoral que assistiram admirados ao espetáculo da Primeira Missa.
            Para os índios da nação Tupi, que habitavam a costa brasileira, a religião dos conquistadores não fazia muito sentido. Sua crença se baseava nas forças da natureza e nos seus principais rituais para evoca-las. Para eles eram os rios, a mata, os espíritos dos animais, as fontes, as árvores e plantas sagradas a quem recorriam para conter as doenças, para celebrar os ancestrais, para vencer as guerras e dar sentido ao mundo.
            A nova fé que as difundia na terra recém descoberta iria conviver, apesar da rigidez de seus dogmas, com os entes das matas e dos rios cultivados pelas crenças indígenas. E até hoje a presença de Iara, da Caapora, do Curupira estão aí, preservadas nas lendas que formam o imaginário brasileiro."
 Os escravos africanos trazidos para as lavouras de cana passaram também por maus bocados para que pudessem manter suas crenças e rituais, diante da opressão dos seus "donos" cristãos. 


"Na travessia do Oceano Atlântico, muitos sucumbiram dentro dos porões fechados dos navios negreiros. Outros resistiram, unindo sua força física talvez à crença em seus deuses.
            Com o passar do tempo, associaram seus deuses originais aos santos da Igreja Católica. Era uma forma de manter viva a fé trazida da África e sua identidade cultural. Os escravos, em sua grande maioria trazidos da Nigéria, do Benin e de Angola, cultivaram no cativeiro seus Orixás às escondidas, mesmo burlando as proibições e os castigos. Os Orixás representavam o elo permanente com as suas origens, com os seus rituais, sua mitologia, seus cânticos e toques de tambor. Eram recursos que alimentavam a chama do viver e suportou a condição de escravo.
            No espaço entre a casa grande e a senzala, nas datas dos santos católicos, nas festas do calendário cristão, havia o encontro de duas fés muito diferentes. Identificando a qualidade e a natureza de seus Orixás com as características dos santos do catolicismo, processou-se o sincretismo que nos chega até os dias atuais."



Além disso...

"Vamos enfocar a festa da Bandeira do Divino, a religiosidade mesclada aos cânticos e festejos celebrando a boa colheita, uma tradição européia que se adaptou tão bem ao Brasil, e ainda hoje é encenada em Minas Gerais."

"Vamos dar vez ao Reisado, comemorando o Dia de Reis com a sua visão tão brasileira do Natal."

"Vamos abrir espaço para a Cavalhada, enredo popular que celebra a luta entre os cristãos portugueses e os invasores mouros. A Cavalhada retrata a libertação de Portugal depois de 800 anos de dominação árabe. Hoje, no Nordeste e em Goiás, esta tradição se encontra ainda viva."

"Assim foi em Canudos, no episódio da Pedra Bonita, assim foi a vida de Padre Cícero. No nordeste, o sentimento religioso parece caminhar em direção ao passado, movido pela nostalgia de uma época ideal onde o reino da felicidade, da igualdade e da solidariedade se implantou entre os homens."

"As migrações trouxeram novos braços para o trabalho, para o comércio. O fiel muçulmano, o rabino judeu, o sacerdote ortodoxo, o Hare Krishna, o budista, entre outros, convivem em paz nesta terra que é um campo propício à liberdade de todas as fés. Até mesmo as piadas e as gozações, são formas de aceitar o outro."

"Mas todo mundo tem seus enganos, tem seus perigos e pobres dos desavisados que oferecem sua boa fé às palavras dos falsos profetas. No mundo moderno a fé vira artigo de consumo, no rádio ou na TV, os pregadores usam os meios eletrônicos para vender seu peixe."

Pois é, há mais de 15 anos a Mocidade já levantava o assunto das "Pequenas igrejas, grandes negócios!". Mas, no enredo escrito, não aparecem referências a grupos como ateus e agnósticos. Então, vamos deixar aqui também a referência a esses dois grupos, muito numerosos, aliás, cada vez mais numerosos no Brasil. E como dizia o enredo da mocidade, "Até mesmo as piadas e as gozações, são formas de aceitar o outro.", aí vai:

RESPEITO por TODOS! Afinal de contas, como dizia o post anterior: "Direito é Direito!"
 E para finalizar, um trecho do desfile com a letra do samba!
Uma ótima semana a todos!

                                                                       Mocidade 1995!

domingo, 22 de maio de 2011

E a liberdade?

Essa semana, diante de mais casos de suspeita de corrupção, além das centenas de casos que acompanhamos em todas as esferas de governo, em todos os partidos, em todos os estados, trago um enredo que serve para uma reflexão profunda sobre nossa ação no cotidiano. 
Trata-se de um enredo forte e que A Unidos de Vila Isabel levou para a avenida no ano posterior ao seu primeiro título do carnaval, o lendário "Kizomba - A festa da raça!" (1988). 
Em 1989 o enredo foi "Direito é Direito!". 

É hora da verdade
A liberdade ainda não raiou
Queremos o direito de igualdade
Viver com dignidade
Não representa favor
Hoje, a Vila se faz tão bonita
E se apresenta destemida
Unida pelos mesmos ideais
Lutando com a maior sabedoria
Contra os preconceitos sociais
A Declaração Universal
Não é um sonho, temos que fazer cumprir
A justiça é cega, mas enxerga quando quer
Já está na hora de assumir (eu sei)
Sei que quem espera não alcança
Mas a esperança não acabará
Cantando e sambando acendo a chama
E sonho um novo dia clarear


 Clareou
 Despertou o amor, que é fonte da vida (bis)
Vamos dar as mãos e lutar
Sempre de cabeça erguida


E quando o amanhã surgir, surgir
A flor da paz se abrir, se abrir
Será prosperidade
A brisa vai trazer mais alegria
No mundo haverá fraternidade


Direito é direito
Está na declaração (bis)
A humanidade
É quem tem razão



Abaixo podemos ver os ítens da Declaração universal dos direitos do homem  e do cidadão!

Art.1.º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinações sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.
Art. 2.º A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão.
Art. 3.º O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.
Art. 4.º A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.
Art. 5.º A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.
Art. 6.º A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.
Art. 7.º Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.
Art. 8.º A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.
Art. 9.º Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei.
Art. 10.º Ninguém pode ser molestado por suas opiniões , incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.
Art. 11.º A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.
Art. 12.º A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada.
Art. 13.º Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.
Art. 14.º Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a colecta, a cobrança e a duração.
Art. 15.º A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.
Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.
Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização.
Reflexão! Para todos! Cada vez mais! 
Boa semana a todos!

domingo, 15 de maio de 2011

Trabalhadores do Brasil!!!!

Com esta expressão um dos maiores, senão o maior nome da política nacional iniciava seus discursos, falando diretamente áqueles que defendia ferozmente! Como dizia o enredo da Portela em 2000: 
Trabalhadores do Brasil: A época de Getúlio Vargas!
No mesmo ano, em São Paulo, outra águia, essa da zona leste contava em belos versos a saga deste mesmo ícone, com a seguinte pergunta título de seu enredo: Por que me orgulho de ser Brasileiro?

Foi assim
Saiu da vida
Para entrar na história
Com coragem
Mudou a estrutura do país

O pulso forte
Criou um Brasil melhor
O estadista mostrava o seu valor
O grande caudilho
Suplantava o ditador

Fez uma revolução
Um Estado Novo
Teve a sua aclamação
Nos braços do povo

Era a Rádio Nacional
Os grandes cantores surgiam
O futebol e o Carnaval
As artes também reluziam

Do trabalhador foi defensor
Em formas de leis
O ouro negro era nosso
Ferro e carvão
Cidadania
Um grande pai
Que amou nossa nação

Canta Nenê
Hoje eu quero ver
O Anhembi delirar
Canta Nenê
Exaltando a Era Vargas
Hoje o Brasil vai lembrar
 
Vale a pena conferir o clima forte do desfile em 2000. O intérprete era Baby:
Getúlio assume o governo na revolução de 1930, acabando com a tradicional política do café com leite. Tratava-se de um revezamento da presidência da república entre São Paulo e Minas Gerais. 
A atuação de Vargas foi marcada por um forte incentivo ao Brasil, uma política nacionalista e voltada aos menos favorecidos, os trabalhadores. As leis trabalhistas e o voto secreto podem ser usados como marca do trabalho do "pai dos pobres" como tradicionalmente era chamado. 
Logo após assumir, teve início seu governo provisório, uma fase de reorganização do país. De 1934 a 1937 ele vive seu momento constitucional, onde através das eleições ele se mantém no poder, apoiado nas massas do país. 
  A fase que Getúlio iniciou em 1937 a portela cantou muito bem em seu desfile: 

O raiar de um novo dia
Desafia meu pensar
Voltando à época de ouro
Vejo a luz de um tesouro
A Portela despontar (lálalaiá)
Aclamado pelo povo, o Estado Novo
Getúlio Vargas anunciou
A despeito da censura
Não existe mal sem cura
Viva o trabalhador ôôô
 
Nossa indústria cresceu (e lá vou eu...)
Jorrou petróleo a valer...
No carnaval de Orfeu
Cassinos e MPB
 
O Rei da Noite, o teatro, a fantasia
No rádio as rainhas, a baiana de além-mar
Tantas vedetes, cadilacs, brilhantina
Em outro palco o movimento popular
E no Palácio das Águias
Ecoou um grito a mais
Vai à luta meu Brasil
Pela soberana paz
Quem foi amado e odiado na memória
Saiu da vida para entrar na história
 
Meu Brasil-menino
Foi pintado em aquarela
Fez do meu destino
O destino da Portela
(O raiar...)
 
Com o estado novo teve início uma ditadura de Vargas, instalando mecanismos de controle da imprensa entre outras ações. A cultura e a vida noturna do país teve novo fôlego em seu governo. As próprias escolas de samba passaram a ser regulamentadas durante o governo Vargas.
A seguir um pequeno resumo dessa época em uma vídeo aula bem resumida:
E se não bastasse uma atuação forte e enérgica em seu governo, Vargas acabou deixando o cenário político nacional de um modo tão marcante quanto sua atuação em vida. Nas duas letras de samba aparece a frase:
"Saio da vida para entrar na história!"
O episódio do suicídio de Vargas sela o fim de sua história como presidente do país, mas não apaga o legado de incentivo à indústria nacional. Seu legado ainda é reivindicado por muitos partidos e políticos de todo país.
Em resumo, Getúlio Dorneles Vargas entrou para a história e ainda mais, entrou no samba de duas das mais tradicionais escolas do país: Portela e Nenê de Vila Matilde.
Duas águias que voaram muito alto durante muito tempo, mas que atualmente não vivem os seus melhores momentos. 
Enfim, ele realmente saiu da vida e com certeza, jamais deixará a história e o carnaval!


domingo, 8 de maio de 2011

"Marcado pela própria natureza...."

Uma pérola, jóia rara exibida nas ruas próximas à atual Marquês de Sapucaí. A escola detentora dessa honra foi a Em Cima da Hora, atualmente nos grupos de acesso. De Início, a Letra do samba, sensacional: 

Os Sertões (1976)
Em Cima da Hora
Composição : Edeor de Paula

Marcado pela própria natureza
O Nordeste do meu Brasil
Oh! solitário sertão
De sofrimento e solidão
A terra é seca
Mal se pode cultivar
Morrem as plantas e foge o ar
A vida é triste nesse lugar

Sertanejo é forte
Supera miséria sem fim
Sertanejo homem forte
Dizia o Poeta assim

Foi no século passado
No interior da Bahia
O Homem revoltado com a sorte
do mundo em que vivia
Ocultou-se no sertão
espalhando a rebeldia
Se revoltando contra a lei
Que a sociedade oferecia

Os Jagunços lutaram
Até o final
Defendendo Canudos
Naquela guerra fatal

A Seguir, a sinopse do enredo, detalhada, com alas, carros alegóricos e tudo que se tem direito de saber, mesmo sendo umdesfile de 1976, quando são difíceis de obter essas informações.

SINOPSE 1976
Os Sertões

Introdução:

          Quando Euclides da Cunha afirmou ser o sertanejo acima de
tudo um forte, quis dizer que o brasileiro era acima de tudo um forte,
apesar de todas as adversidades naturais a um País em formação.
          Longe da Campanha de Canudos, na ausência das suas ruínas,
quando a República dava seus primeiros passos, ainda no clima de receios
da extinta Monarquia, Antonio conselheiro seria mero episódio regional,
talvez sem expressão, não fossem os temores da época, que os boatos
faziam crescer.
          A luta estava declarada. Euclides da Cunha retratou-a, através
da força do seu talento. Todos sabem disso.
          Cabe, entretanto, hoje, dizer dos esforços da Escola de Samba
Em Cima da Hora para mostrar isto: o passado, estórias detalhes, cores,
melodia, poesia. A letra do seu samba-enredo está estritamente dentro das
fronteiras da verdade e sua melodia reflete realmente o necessário estado
de ânimo daquele período.
          O trabalho foi sério e de pesquisa. Nem podia deixar de ser
assim. Pela simples razão de que o Escritor, os Acontecimentos, a grande
História, foram forjados no fogo e sangue de seus combatentes.
          Relembra, apenas, as palavras de Euclides da Cunha: “Canudos
 não se rendeu”.
          Que a Em Cima da Hora não se renda. E que assuma, dentro de
cada um, o entusiasmo deste exemplo.
          E desfile firme, ao som das percussões e do seu cantar e
dançar e vencer.
Merecida Vitória!

Dirceu Quintanilha

Apresentação:

          O G.R.E.S. Em Cima da Hora, sente-se honrado em abrir o desfile oficial do carnaval de 1976 na capital mundial da beleza e do turismo e, na oportunidade em que o samba volta ao seu berço natal, a Praça XI, enviamos as nossas homenagens especiais às autoridades Federais, Estaduais e Municipais e em particular ao Prefeito Dr. Marcos Tamoio e a Riotur, na pessoa do seu Presidente Dr. Vitor de Oliveira.
          
Saudamos a Imprensa escrita, falada, filmada e televisada do Brasil e do mundo.
          Saudamos a Comissão julgadora, aos turistas, ao povo carioca e a todos os brasileiros.
          Parabéns ao novo Estado do Rio de Janeiro com o melhor carnaval do mundo.
          Pedimos passagens e apresentamos nosso enredo: “Os Sertões” do livro de Euclides da Cunha.

Desenvolvimento:

          Servimo-nos do livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, para extrair o enredo para a nosso exibição neste carnaval de 1976. Encenaremos com aproximadamente dois mil e duzentos (2.200) figurantes, toda a odisséia de Canudos, iniciando como no livro, com a situação da TERRA e a formação do HOMEM, para depois, então, entrarmos na LUTA, finalizando com a PAZ.
          Nosso carnaval divide-se em três (3) partes: A TERRA, O HOMEM e A LUTA distribuídas em quatro setores:

1° Setor - A Terra

          Mostraremos o desolamento do sertão, o martírio da terra permanentemente castigada por verões quentíssimos e secas periódicas, as enchentes, o sertão de Canudos, a seca, a vegetação agreste, as árvores esqueléticas, geralmente sem folhas e a caatinga.

2° Setor - O Homem

          Lutando contra toda a adversidade da TERRA, o homem do Nordeste brasileiro, será realçado em toda a sua bravura enfatizando a frase do escritor que celebrizou o drama de Canudos: “O SERTANEJO É ANTES DE TUDO UM FORTE”, uma realidade objetiva feita de violências, vicissitudes, tragédias e beleza. A luto do homem contra a natureza inóspita e cruel.
          A formação do homem do nordeste, a mistura das raças, o negro, o índio e o branco...
          A exploração do sertão por bandeirantes paulistas e gaúchos, através do Rio S. Francisco de grande importância. O grande Rio erigia-se desde o princípio com feição de um unificador étnico, longo traço de união entre as duas sociedades que não se conheciam.
          O vaqueiro raça forte e antiga, de caracteres definidos e imutáveis mesmo nas maiores crises.
Antonio Conselheiro – Documento vivo de atavismo
          A vida de Antonio Conselheiro é um capítulo instantâneo na vida de sua sociedade.
          Viu a República com maus olhos e pregou, coerente, a rebeldia contra os novas leis.

3° Setor - A Luta

          A campanha de Canudos despontou da convergência espontânea de todas as forças desvairadas, perdidos nos sertões.
          Os primeiros combates, as reações, Monte Santo, Canudos, os canhões Krup 7½.
          As forças expedicionárias em constantes combates com os ardilosos jagunços.
          A Expedição Moreira Cezar, a Coluna Savaget, o Coronel Carlos Teles, o General Artur Oscar, bravos combatentes em prol da República e do Governo Floriano Peixoto.
          As profecias de Antonio Conselheiro, a chegada de Dom Sebastião.

4° Setor – A Paz

          Os jagunços lutaram até o final, esfomeados e rotos, predispunham-se o um suicídio formidável. Moribundos, com os dedos nos gatilhos das espingardas, combatiam Contra um exército.
          Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo.

Apresentação do Carnaval:

Setor 1:

    Abre Alas - É a maneira das Escolas apresentarem seus enredos. Nosso Abre-Alas é a reprodução do livro “OS SERTÕES”, de Euclides da Cunha, tendo em baixo relevo a efígie do grande escritor brasileiro e um SOL com o nome da nossa Escola.

    Comissão de Frente - Composta de 15 rapazes vestidos à moda da época (1902), como Euclides da Cunha se vestia. Figurino tirado de fotografias do escritor.

    Alegoria de Mão - Nossa homenagem póstuma ao grande sambista NATAL no primeiro ano ausente da passarela.

    Alegoria de Mão - O Sol - símbolo do nosso enredo.

    Destaque - Linda fantasia representando o astro REI, vestida por Jayme Santos.

    Ala de Abertura - Dez lindas mulatas vestidas com fantasias estilizadas, representando o clima e a vegetação dos sertões.

1ª Parte:

    Alegoria de Mão - A TERRA: A terra árida, ignota, o sertão agreste, as caatingas as plantas típicas.

    Alas de Índios: A formação do homem brasileiro, sua origem, o início do civilização.

    Destaque - A TERRA, linda fantasia usada por Cilinha Crespo Severino (destaque de ouro).

    Alas - O luar do sertão: Várias estilizações inspirados nas noites sertanejas. Alas inspiradas no clima e na vegetação.

    Destaque - A MATA: Rico figurino representado por Antônio Maria Eleutério.

    Alas - Figurinos inspirados no clima e vegetação.

2ª Parte - O Homem

    Alegoria de Mão - Nesta fase Euclides da Cunha procurou apresentar a formação do homem brasileiro no nordeste. Fez uma análise geral e comparações com os povos do Sul.

    Alas - Apresenta o NEGRO, O ÍNDIO, O MAMELUCO ou CURIBÓCA, O CAFUZO e o MULATO na formação do homem nordestino.
    Sua célebre frase: “O SERTANEJO É ANTES DE TUDO UM FORTE”. Diz bem o que ele achava do povo do nordeste brasileiro.

    Alas - Ricas fantasias inspiradas no índio, no branco e no negro.
    O CANGACEIRO, tipicamente vestido.
    Várias estilizações de jagunços, vaqueiros e cangaceiros.

    Alegoria de Mão – O SERTANEJO É ANTES DE TUDO UM FORTE.

    Destaque – O HOMEM: Entre duas alegorias que complementam sua fantasia, este lindo figurino retrata fielmente a figura do CANGACEIRO, representado por JOSÉ DOS SANTOS.

    Alas – INDIOS – Diversos tipos de índios brasileiros.

    Destaque – DOM SEBASTIÃO: Figurino de grande efeito, ricamente representado por CLÓVIS BORNAY, símbolo do carnaval brasileiro.

    Alas – Bandeirantes e índios.

2° Setor

    Alegoria de Mão – Painel em vime – Participação do negro na formação da raça brasileira.

    Alas – Figurinos inspirados no negro, no branco e no índio, várias estilizações. O vaqueiro nordestino. Estilizações inspirados no símbolo do nosso carnaval - O SOL.

    Ala – Capoeira

    2° Casal de Mestre-Sala e Porta Bandeira: Dentro da formação de uma Escola, o 2° Mestre Sala e a 2ª Porta Bandeira, trazem o pavilhão com que a Escola desfilou no ano anterior.

    Alegoria de Mão - CARRANCAS DO RIO SÃO FRANCISCO: A função histórica que teve, o RIO SÃO FRANCISCO na formação dos raças, por onde os bandeirantes alcançavam o nordeste, está representado pelas famosas CARRANCAS usadas nos barcos.

    Alas – Vaqueiros do Norte e do Sul

    Destaque: O GAÚCHO figurino típico vestido por PAULO SENNA.

    Alas – Gaúchos, figurinos típicos e estilizados.

    Destaque – NOITE SERTANEJA, representados por Olinda e Arthur.

    Alegoria de Mão – (vime) – Comparação entre o homem do norte e do sul.

    Alas – Estilizações diversas.

    1° Carro Alegórico: Composição inspirada na formação da raça brasileira onde aparecem as figuras do branco representado por um bandeirante, do índio e do negro.
    As carrancas das barcas do Rio S. Francisco e a vegetação típica complementam esta alegoria.

    Alas – CONJUNTO SHOW

    Alegoria de Mão (vime) DAMA DA ALTA SOCIEDADE – (fins do século XIX).

    Destaque: Rica Dama do século XIX representada por Mora do Nascimento.

    Alas – Estilizações diversas de cangaceiros. Cangaceiros tipicamente vestidos.

3ª Parte:

    Alegoria de Mão (vime) – A LUTA: A guerra de Canudos, a luta fraticida, os combates sangrentos e cruéis, a figura de ANTONIO CONSELHEIRO, O BEATO, OS CABECINHAS e OS JAGUNÇOS.
    As expedições combatentes e os briosos militares.
    Canudos não se rendeu, lutou até o último combatente.

    Destaque – A LUTA: Linda e rica fantasia ostentada por Mariazinha Suzano (destaque de ouro) inspirado em elementos que caracterizam a batalha de Canudos.

    Ala – SOLDADOS E JAGUNÇOS

    Alas – Figurinos inspirados nos estragos causados pela refrega.

    Alegoria de Mão (vime) ANTONIO CONSELHEIRO UM MITO

    Destaque – ANTONIO CONSELHEIRO: Vistosa fantasia representando o líder de Canudos, ostentada por Maurílio Mozart.

    Ala – ANTONIO CONSELHEIRO na fase pobre

    Ala de Cangaceiros.

    Mestre-Sala e Porta Bandeira mirins: Responsáveis pela Bandeira do Divino. Carregam-na Augustinho e Sylvinha.

    Alegoria Intermediária: Dois (2) canhões KRUPP do tipo dos que foram utilizados durante a campanha de CANUDOS.

    Alas – Soldados e cangaceiros, autênticas e estilizadas.

    Destaque – O BEATO: A segunda pessoa em importância na Campanha de Canudos, o braço direito de Antonio Conselheiro, vestido por Geraldo Hernano da Silva Lopes, numa réplica maravilhosa do velho cabecilha.

    Alas – Cangaceiros – figurinos autênticos e estilizados.

3° Setor

    2° Carro Alegórico: Carro simbolizando a batalha com esculturas do Conselheiro, soldados e jagunços. Complementa a alegoria um grande painel onde está pintado cenas da Campanha de Canudos.

    Alas de soldados, jagunços, cangaceiros, alas masculinas, femininas e mistas. Figurinos típicos e estilizados.

    Passistas – Alas mistas.

    Destaque – DAMA DA ÉPOCA: Linda fantasia inspirado nas domas da época, representada por ELIANA PITMAN.

    Carro de Som – O samba será “puxado” pelos cantores NANDO e BAIANINHO, acompanhados pelo conjunto NOSSO SAMBA.

    Bateria: Composta de duzentos (200) ritmistas sob o batuta dos mestres BIRA, LÉO e ZÉ CARLOS. Reúne ritmistas de primeira qualidade que se propõem o dar um verdadeiro show na avenida.
    Vestida com figurino de jagunço estilizado, para melhor mobilização.
    Acompanham a bateria a Rainha de Bateria e a ala feminina de passistas da bateria.

    Alas – Figurinos de jagunços, soldados e damas dos fins do século XIX. Figurinos típicos e estilizados.

    Destaque – O casal de destaques ricos apresentam as figuras do Marechal Deodoro da Fonseca e sua esposa Dona Mariana Cecília de Souza Meireles, representados por Hélio José Coelho e Nilza Praga de Oliveira.

    Alas – Vaqueiros e jagunços, estilizações diversas.

    Destaque – DAMA DA ALTA SOCIEDADE: Do princípio do século XX representada por MARIA DE LOURDES.

    1° Casal de Mestre-Sala e Porta Bandeira: Itinho e Estandília, casal maravilhoso que leva a bandeira do nosso carnaval, cujo símbolo é o SOL.
    A bandeira é para a Porta Bandeira e Mestre Sala, como uma jóia carregada por uma dama cortejada por um cavalheiro.

    Alas – Jagunços, soldados e índios. Estilizações diversas.

    Destaque – Rica fantasia de dama da alta sociedade do princípio do século XX, representada por IÁRA FERNANDES RIBEIRO.

    Alas – Jagunços. Estilizações diversas.

4° Setor:

    Alegoria de Mão

    Alas – Estilizações Diversas.

    Alas – Passistas. Figurinos próprios.

    Alas – Ala mista, com figurino estilizado baseado no SOL.

    Alegoria de Mão (vime) A PAZ

    Alas – Figurinos de vaqueiros nordestinos – alas masculinas, femininas e mistas, estilizações diversas.

    Destaques – FLORIANO PEIXOTO e sua esposa JOSINA PEIXOTO: Representados por Sudemário Rodrigues e Ivone Pinheiro, ricamente vestidos.

    Alas – Jagunços e índios – estilizações diversas.

    Alegoria de Mão – Monarquia e República.

    Destaque: Rica fantasia inspirada na Monarquia recém-extinta e na República então proclamada. Vem muito bem representada por Mário Piquet.

    Alas – Jagunços e cangaceiros. Alas masculinas, femininas e mistas. Estilizações diversas.

    3° Carro Alegórico: Um lindo carro, simbolizando o PAZ, o fim da batalha, a volta à normalidade.
    Trazendo a figura do Conselheiro já como lenda, o jagunço voltando à sua vida cotidiana e a pomba da PAZ.

    Alas – JAGUNÇOS E VAQUEIROS: Alas masculinas, femininas e mistas. Estilizações diversas.

    Alas – Baianas, diversas estilizações

    Alas – Fechando o nosso desfile a ALA DAS BAIANAS RICAS (Baianas gordas, baianas tradicionais).



Qualquer comentário sobre essa verdadeira obra-prima do carnaval, é desnecessário!

Aproveitem!

domingo, 1 de maio de 2011

Que delícia é essa festa profana!

Ah, o carnaval! Pena que aconteça somente uma vez por ano!
Quantas vezes ouvimos essa expressão, mas não nos damos conta de que as escolas de samba, responsáveis pelo "Maior espetáculo da terra" trabalham o ano inteiro, portanto, o carnaval acontece o ano todo. 
Além disso, parte da população brasileira não leva em consideração o aspecto cultural dessa festa, visto que acreditam ser o período de extravasar, e infelizmente encher a cara, provocando brigas, acidentes, etc. 
Outra área que passa sobre o carnaval e na maioria das vezes não dá a devida atenção ao espetáculo é a dita "elite" intelectual e o mundo acadêmico deste país. 
Comunidades com milhares de pessoas que trabalham e efetivamente participam do espetáculo ao longo do ano, na sua construção, seja nos barracões, na costura, fabricação de fantasias, nos ensaios técnicos, nas quadras das escolas, não podem ser desprestigiadas. 
Essa festa é muito antiga, tem uma história milenar e em nosso país adquiriu um caráter único. Poucos povos, civilizações, sociedades, seja lá a denominação utilizada, podem ter o privilégio de viver um evento que já está registrado na história, onde ficará para as futuras gerações. 
Diante da proporção desse evento, ele deveria ser conteúdo obrigatório em todas as escolas do país! 
Que país é esse que rejeita ou deixa de lado sua maior festa popular? 
Um país sem noção da realidade cultural em que está imerso e talvez não perceba a invasão e domínio da cultura estrangeira, importada, no seu próprio território.
O nacionalismo não se cria da noite para o dia, mas a perda das referências nacionais acontecem da mesma forma! Estamos vendo em nosso país a cultrua estrangeira sendo prestigiada pelos meios de comunicação em uma proporção cada vez maior! Enquanto isso a cultura nacional....
Seguirá sendo valorizada aqui neste espaço, mesmo que em um alcance limitado, mas será feita!
Hoje, apresentamos um enredo que já foi para a avenida duas vezes, com um resultado muito bom!
Em 1989, "Festa Profana" foi levado pela União da Ilha e em 2005 foi reditado pela Porto da Pedra. 
De início, o samba, antológico mais uma vez:

O rei mandô cair dentro da folia
E lá vou eu
O Sol que brilha nessa noite vem da Ilha
Lindo sonho que é só meu
Vem, vem amor!
Na poesia vem rimar sem dor
Na fantasia, vem colorir
Que a vida tem mais cor
Vem na magia
Me beija nesse mar de amor
Vem, me abraça mais
Que eu quero é mais
O teu coração

Eu vou tomar um porre de felicidade
Vou sacudir, eu vou zoar toda cidade

Eh! Boi Ápis
Lá no Egito, festa de Ísis
Eh! Deus Baco, bebe sem mágoa
Você pensa que esse vinho é água?
É primavera!
Na lei de Roma, a alegria é que impera
Oh! Que beleza!
Máscara negra lá no baile de Veneza

Oi joga água que é de cheiro
Confete e serpentina
Lança perfume no cangote da menina

Como todos podem perceber, o samba canta a história dos festejos carnavalescos, indiando as princiais referências de festas que deram origem a essa festa. Egito, Grécia, Roma, Veneza, Brasil!
No Egito o Boi Ápis e a Deusa Ísis tinham seus festejos anuais:

Em Roma e na Grécia, os Deuses Baco e Dionísio com seus festejos alegres:
 Em Veneza as tradicionais máscaras dão um toque de mistério e requinte ao carnaval!



E no Brasil, não preciso falar mais nada, a festa não tem hora! Mas na Sapucaí a organização é exemplar. Confira agora trechos dos desfiles da União da Ilha de 1989 e da Porto da Pedra em 2005!
Boa semana a todos e viva a cultura nacional!
 União da Ilha 1989


Porto da Pedra 2005