Nas últimas semanas estamos nos impressionando e preocupando com o desaparecimento da água dos reservatórios do estado de São Paulo, especialmente do maior deles, o Cantareira.
Nas primeiras semanas de 2015 os níveis do reservatório tem girado em torno dos 6% da capacidade. Cotas do chamado volume morto, usado somente em situações críticas vem sendo utilizadas e estratégias vem sendo adotadas pelos governos municipal e estadual tais como multas a quem desperdiçar, distribuição de redutores de vasão para torneiras, além de forte apelo à economia de água por parte da população.
Imagens como esta, do chão do reservatório completamente seco e rachado, típicas do sertão nordestino tornaram-se rotina no estado mais rico e populoso do país. Esta situação serve para que o debate sobre a preservação dos recursos naturais seja mais uma vez trazido à tona.
Porém, como de costume, somente tomamos atitudes sustentáveis e engajadas em relação ao meio ambiente quando nos deparamos com as dificuldades impostas pela natureza que naturalmente precisa reorganizar-se e na maioria das vezes esse processo acaba nos afetando drasticamente.
Mais uma vez, uma escola de samba já havia abordado este tema, e muito especificamente os danos causados ao sistema cantareira, que é composto por vegetação nativa, na Serra da Cantareira e muitas fontes naturais, que vieram sendo destruídas e contaminadas já faz muito tempo.
A escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi, que se localiza próxima a esta verdadeira reserva natural, clamou pela preservação e cuidados com este ambiente no carnaval de 2005, com o enredo "Samba, sombra e água fresca... Cantareira, o pulmão verde de São Paulo"
Confira a Letra do Samba:
Levante as mãos pro céu,
Pode aplaudir,
Com o puro ar da CANTAREIRA
Lá vem minha TUCURUVI
Verde que o bom Deus abençoou,
Te quero ver,
Chega de destruição
Por que a devastação?
O índio pagou caro sem compreender,
A ganância dos reis do café,
Quase que consumiu, nosso gigante pulmão
Mas a natureza, fez prevalecer
A vida....se fez valer,
Neste recanto onde é lindo o alvorecer
Vem pro samba meu amor, (amor, amor)
Deixe o corpo balançar (vem zoar)
Hoje o couro vai comer,
Água fresca pra beber
E sombra para descansar.
Vem, conhecer a CANTAREIRA
Paraiso de encantos, tem cachoeiras
A fauna e a flora são lindas de ver
Um perfeito lugar pro lazer
Onde brotam rios de paz
Patrimonio da humanidade,
No verde cinturão desta cidade.
Fontes, que abastecem a população
Quero, sempre a sede saciar...
Mas olha o nível
Pra não faltar
É tempo de economizar...
No trecho inicial são citados os barões do café como responsáveis por parte dos crimes cometidos à região, como fica claro no texto do site da Associação Cantareira:
"A estrada de ferro, os Barões do Café, os migrantes e os imigrantes. Muita construção e demolição. Residências de taipa tão características do princípio do século praticamente sumiram. Formas e reformas. A especulação imobiliária cada vez mais falou alto em meio a dinâmica da ordem e progresso. Em 1922, no Centenário da Independência, os paulistanos viram a “Semana da Arte Moderna” discutir tradições e vanguarda em pleno Theatro Municipal: Tupi or not tupi, that’s the question… A ‘Paulicéia Desvairada’, conforme o intelectual Mário de Andrade"
No carro alegórico abre-alas do desfile em questão aparece a figura do "rei café" empunhando machados, em uma clara alusão ao desmatamento da região da cantareira que na maioria das vezes acaba causando o fim das fontes naturais de água, um dos causadores da atual falta de recursos hídricos.
Neste contexto quem perdeu, sem dúvida, foi o complexo Cantareira. Tanto isso é verídico, que no final do samba, muito animado, a escola faz um apelo à consciência, no trecho que diz:
"Fontes, que abastecem a população
Quero, sempre a sede saciar...
Mas olha o nível
Pra não faltar
É tempo de economizar..."
Se formos averiguar a situação atual, vemos que já passou da hora de economizar, São Paulo já está vivendo racionamento de água.
Para finalizar a postagem que marca a volta às atividades deste blog, queremos destacar mais uma vez a questão histórica e social que o carnaval das escolas de samba representa. Um enredo como este que foi apresentado pela Tucuruvi é um verdadeiro dossiê da Cantareira, visto que mostra o histórico da região, com os efeitos produzidos pelo homem ao longo do tempo e finaliza fazendo um alerta e cabe ressaltar que isso foi feito no remoto ano de 2005, ou seja: 10 anos atrás o problema que bate à porta dos paulistas hoje foi levantado na avenida e transmitido nacional e internacionalmente.
Enfim, voltaremos em breve com mais publicações e sempre valorizando a maior e mais genuína manifestação cultural brasileira.
Viva o Carnaval das Escolas de Samba!
Viva a Cultura Brasileira!
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