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sábado, 17 de janeiro de 2015

Falta de água em São Paulo? A Tucuruvi avisou!

Nas últimas semanas estamos nos impressionando e preocupando com o desaparecimento da água dos reservatórios do estado de São Paulo, especialmente do maior deles, o Cantareira. 
Nas primeiras semanas de 2015 os níveis do reservatório tem girado em torno dos 6% da capacidade. Cotas do chamado volume morto, usado somente em situações críticas vem sendo utilizadas e estratégias vem sendo adotadas pelos governos municipal e estadual tais como multas a quem desperdiçar, distribuição de redutores de vasão para torneiras, além de forte apelo à economia de água por parte da população.
Imagens como esta, do chão do reservatório completamente seco e rachado, típicas do sertão nordestino tornaram-se rotina no estado mais rico e populoso do país. Esta situação serve para que o debate sobre a preservação dos recursos naturais seja mais uma vez trazido à tona. 
Porém, como de costume, somente tomamos atitudes sustentáveis e engajadas em relação ao meio ambiente quando nos deparamos com as dificuldades impostas pela natureza que naturalmente precisa reorganizar-se e na maioria das vezes esse processo acaba nos afetando drasticamente. 

 Mais uma vez, uma escola de samba já havia abordado este tema, e muito especificamente os danos causados ao sistema cantareira, que é composto por vegetação nativa, na Serra da Cantareira e muitas fontes naturais, que vieram sendo destruídas e contaminadas já faz muito tempo. 
A escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi, que se localiza próxima a esta verdadeira reserva natural, clamou pela preservação e cuidados com este ambiente no carnaval de 2005, com o enredo "Samba, sombra e água fresca... Cantareira, o pulmão verde de São Paulo" 

Confira a Letra do Samba: 

Levante as mãos pro céu, 
Pode aplaudir, 
Com o puro ar da CANTAREIRA 
Lá vem minha TUCURUVI 

Verde que o bom Deus abençoou, 
Te quero ver, 
Chega de destruição 
Por que a devastação? 
O índio pagou caro sem compreender, 
A ganância dos reis do café, 
Quase que consumiu, nosso gigante pulmão 
Mas a natureza, fez prevalecer 
A vida....se fez valer, 
Neste recanto onde é lindo o alvorecer 

Vem pro samba meu amor, (amor, amor) 
Deixe o corpo balançar (vem zoar) 
Hoje o couro vai comer, 
Água fresca pra beber 
E sombra para descansar. 

Vem, conhecer a CANTAREIRA 
Paraiso de encantos, tem cachoeiras 
A fauna e a flora são lindas de ver 
Um perfeito lugar pro lazer 
Onde brotam rios de paz 
Patrimonio da humanidade, 
No verde cinturão desta cidade. 
Fontes, que abastecem a população 
Quero, sempre a sede saciar... 
Mas olha o nível 
Pra não faltar 
É tempo de economizar...


No trecho inicial são citados os barões do café como responsáveis por parte dos crimes cometidos à região, como fica claro no texto do site da Associação Cantareira: 

"A estrada de ferro, os Barões do Café, os migrantes e os imigrantes. Muita construção e demolição. Residências de taipa tão características do princípio do século praticamente sumiram. Formas e reformas. A especulação imobiliária cada vez mais falou alto em meio a dinâmica da ordem e progresso. Em 1922, no Centenário da Independência, os paulistanos viram a “Semana da Arte Moderna” discutir tradições e vanguarda em pleno Theatro Municipal: Tupi or not tupi, that’s the question… A ‘Paulicéia Desvairada’, conforme o intelectual Mário de Andrade"


No carro alegórico abre-alas do desfile em questão aparece a figura do "rei café" empunhando machados, em uma clara alusão ao desmatamento da região da cantareira que na maioria das vezes acaba causando o fim das fontes naturais de água, um dos causadores da atual falta de recursos hídricos. 
Neste contexto quem perdeu, sem dúvida, foi o complexo Cantareira. Tanto isso é verídico, que no final do samba, muito animado, a escola faz um apelo à consciência, no trecho que diz: 


"Fontes, que abastecem a população 
Quero, sempre a sede saciar... 

Mas olha o nível 

Pra não faltar 

É tempo de economizar..."

Se formos averiguar a situação atual, vemos que já passou da hora de economizar, São Paulo já está vivendo racionamento de água. 


Para finalizar a postagem que marca a volta às atividades deste blog, queremos destacar mais uma vez a questão histórica e social que o carnaval das escolas de samba representa. Um enredo como este que foi apresentado pela Tucuruvi é um verdadeiro dossiê da Cantareira, visto que mostra o histórico da região, com os efeitos produzidos pelo homem ao longo do tempo e finaliza fazendo um alerta e cabe ressaltar que isso foi feito no remoto ano de 2005, ou seja: 10 anos atrás o problema que bate à porta dos paulistas hoje foi levantado na avenida e transmitido nacional e internacionalmente. 

Enfim, voltaremos em breve com mais publicações e sempre valorizando a maior e mais genuína manifestação cultural brasileira. 

Viva o Carnaval das Escolas de Samba!

Viva a Cultura Brasileira!



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