Sou Cultura viva, pulsando no compasso da bateria! Sou sangue do gigante Brasil!

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domingo, 29 de maio de 2011

Seja quem for... Olhai por nós!

A religião é sempre um tema muito polêmico, ainda mais em um país tão acolhedor à novas crenças e manifestações. Ao longo de nossa história fomos obrigados a aprender muitas delas, outras foram sendo trazidas aos poucos, de modo mais harmônico. 
Esse assunto; a religiosidade do nosso povo, já foi retratado diversas vezes nos desfiles das escolas de samba pelo país, mas sempre tentamos escolher um enredo que sintetize o tema. Essa semana a Mocidade Independente de Padre Miguel se apresenta no blog com o enredo "Padre Miguel, Olhai por nós!", de 1995. 
Os áureos tempos da Mocidade, a década de 90, que parecem estar prestes a ressurgir. O nome da escola já representa uma introdução ao enredo. 
Vamos ver a letra da música, muito bem levada na avenida por Wander Pires, hoje na Porto da Pedra. 

Bravos navegantes portugueses
Encontraram o eldorado tropical, nosso chão
Rezaram a primeira missa,
abrindo as portas pra religião
mas o dono da terra, Índio Tupi
se admirou, sem nada entender
confundiram o seu credo natural
suas lendas e seu jeito de viver
Vieram os negros africanos
com seus tambores, orixás
e suas manifestações
Quantos imigrantes te abraçaram, mãe gentil
trazendo novas crenças pro Brasil
Aí, no meu país em louvação
sagrou-se a mistificação
com tantas preces e a miscigenação


Com a bandeira do Divino
com o reisado me encantei
na Lavagem do Bonfim,
na Cavalhada delirei
Padre Cícero e os romeiros,
quanta emoção
a fé se espalhando no sertão


é maravilhosa, é fascinante, é sedução
a mídia anunciando
e provocando tentação
o paraíso do futuro é aqui
com a nova era que virá
e hoje a Mocidade,
devota de paixão
te canta assim,
em forma de oração


Padre Miguel, Padre Miguel
Olhai por nós, olhai por nós
Se liga nessa gente tão sofrida, meu senhor
Tá sempre aguardando a sua voz


Os portugueses, sempre eles, trouxeram aquela cruz e rezaram a tal primeira missa em 26 de abril, fundando assim a história do catolicismo no Brasil. Nada demais, se através disso não tivessem suprimido boa parte da "religiosidade", se assim podemos chamar, dos indígenas. Segundo palavras do enredo da Escola: 


 "Diante do cenário de grande beleza das praias e das matas selvagens, os descobridores pensaram estar diante do paraíso perdido. Era necessário tomar posse da terra e consagrá-la à fé religiosa que os trouxeram até ali. Foi erguido um altar, levantada a cruz e rezada a primeira missa. Estava implantada para sempre a Cruz da Ordem de Cristo, na nova terra a que chamariam Brasil.
            A Cruz foi o testemunho da fé portuguesa, dos seus destemidos navegadores. Foi também a marca de uma religiosidade estranha aos nativos do litoral que assistiram admirados ao espetáculo da Primeira Missa.
            Para os índios da nação Tupi, que habitavam a costa brasileira, a religião dos conquistadores não fazia muito sentido. Sua crença se baseava nas forças da natureza e nos seus principais rituais para evoca-las. Para eles eram os rios, a mata, os espíritos dos animais, as fontes, as árvores e plantas sagradas a quem recorriam para conter as doenças, para celebrar os ancestrais, para vencer as guerras e dar sentido ao mundo.
            A nova fé que as difundia na terra recém descoberta iria conviver, apesar da rigidez de seus dogmas, com os entes das matas e dos rios cultivados pelas crenças indígenas. E até hoje a presença de Iara, da Caapora, do Curupira estão aí, preservadas nas lendas que formam o imaginário brasileiro."
 Os escravos africanos trazidos para as lavouras de cana passaram também por maus bocados para que pudessem manter suas crenças e rituais, diante da opressão dos seus "donos" cristãos. 


"Na travessia do Oceano Atlântico, muitos sucumbiram dentro dos porões fechados dos navios negreiros. Outros resistiram, unindo sua força física talvez à crença em seus deuses.
            Com o passar do tempo, associaram seus deuses originais aos santos da Igreja Católica. Era uma forma de manter viva a fé trazida da África e sua identidade cultural. Os escravos, em sua grande maioria trazidos da Nigéria, do Benin e de Angola, cultivaram no cativeiro seus Orixás às escondidas, mesmo burlando as proibições e os castigos. Os Orixás representavam o elo permanente com as suas origens, com os seus rituais, sua mitologia, seus cânticos e toques de tambor. Eram recursos que alimentavam a chama do viver e suportou a condição de escravo.
            No espaço entre a casa grande e a senzala, nas datas dos santos católicos, nas festas do calendário cristão, havia o encontro de duas fés muito diferentes. Identificando a qualidade e a natureza de seus Orixás com as características dos santos do catolicismo, processou-se o sincretismo que nos chega até os dias atuais."



Além disso...

"Vamos enfocar a festa da Bandeira do Divino, a religiosidade mesclada aos cânticos e festejos celebrando a boa colheita, uma tradição européia que se adaptou tão bem ao Brasil, e ainda hoje é encenada em Minas Gerais."

"Vamos dar vez ao Reisado, comemorando o Dia de Reis com a sua visão tão brasileira do Natal."

"Vamos abrir espaço para a Cavalhada, enredo popular que celebra a luta entre os cristãos portugueses e os invasores mouros. A Cavalhada retrata a libertação de Portugal depois de 800 anos de dominação árabe. Hoje, no Nordeste e em Goiás, esta tradição se encontra ainda viva."

"Assim foi em Canudos, no episódio da Pedra Bonita, assim foi a vida de Padre Cícero. No nordeste, o sentimento religioso parece caminhar em direção ao passado, movido pela nostalgia de uma época ideal onde o reino da felicidade, da igualdade e da solidariedade se implantou entre os homens."

"As migrações trouxeram novos braços para o trabalho, para o comércio. O fiel muçulmano, o rabino judeu, o sacerdote ortodoxo, o Hare Krishna, o budista, entre outros, convivem em paz nesta terra que é um campo propício à liberdade de todas as fés. Até mesmo as piadas e as gozações, são formas de aceitar o outro."

"Mas todo mundo tem seus enganos, tem seus perigos e pobres dos desavisados que oferecem sua boa fé às palavras dos falsos profetas. No mundo moderno a fé vira artigo de consumo, no rádio ou na TV, os pregadores usam os meios eletrônicos para vender seu peixe."

Pois é, há mais de 15 anos a Mocidade já levantava o assunto das "Pequenas igrejas, grandes negócios!". Mas, no enredo escrito, não aparecem referências a grupos como ateus e agnósticos. Então, vamos deixar aqui também a referência a esses dois grupos, muito numerosos, aliás, cada vez mais numerosos no Brasil. E como dizia o enredo da mocidade, "Até mesmo as piadas e as gozações, são formas de aceitar o outro.", aí vai:

RESPEITO por TODOS! Afinal de contas, como dizia o post anterior: "Direito é Direito!"
 E para finalizar, um trecho do desfile com a letra do samba!
Uma ótima semana a todos!

                                                                       Mocidade 1995!

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