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domingo, 5 de junho de 2011

"A volta dos que não foram!"

Certas vezes os desfiles mais parecem um registro histórico de um fato marcante. Esse é o caso da Acadêmicos do Grande Rio 1997 com o enredo "Madeira-Mamoré - A volta dos que não foram lá no Guaporé!". De saída, o samba, muito forte, interpretado pelo gigante Nêgo:
A letra transborda história:

Sonha, a Grande Rio é um sonho
Em águas claras eu quero sonhar
Enfeitar a vida de alegria
Pra quem um dia, o Sol não quis despertar
Chegaram cheios de esperança
Não sabiam dos mistérios que teriam de enfrentar
Essa mata tem segredos
Que o homem não consegue desvendar
É um mundo de encanto e magia, perfume e fantasia
Cicatriz que a Amazônia fez chorar
Olha o índio no caminho, é caçador
Meu cavalo é de fogo, eu vou que vou (bis)
Se a selva é perigosa, meu amor
Rondônia é alegria, esqueça a dor

Era o eldorado do látex no Brasil
A riqueza que a cobiça alimentou
Nessa história Tio Sam também entrou
No Tratado de Petrópolis tudo começou
O Acre da Bolívia ganhei
E a borracha para o mundo eu exportei
Cada dormente é uma vida, a vida uma flor
Na Maria Louca delirando eu vou
Em sucata o meu sonho terminou
Vou voltar pra onde não fui
O seu encanto é que me seduz (ai, iê, iê, ô)

Cacagibe, Orum de Oiá, Oiá, Oiá
O Guaporé está em festa (bis)
Os vudus vêm pra brincar

Essa tal estrada de ferro é mais uma das grandes invenções brasileiras com a participação "suspeita" de nações "amigas", interessadas em nos "ajudar" no processo de crescimento. Como todos sabemos, embarcamos facilmente no conto do bilhete premiado. Diante de toda a riqueza gerada pelo ciclo da borracha na Amazônia, os olhos europeus e americanos cresceram e era necessária uma forma rápida e barata de levar todo o látex até o porto mais próximo.
Daí surgiu a milagros aestrada de ferro que cortaria a Amazônia e que acabou se transformando em uma "cicatriz que a Amazônia fez chorar", como cantou brilhantemente a Grande Rio. O governo brasileiro investiu na ferrovia para compensar a Bolívia pela perda do território do Acre, pelo Tratado de Petrópolis. A ferrovia deveria superar dezenove cachoeiras do Rio Madeira, que dificultavam o transporte de borracha da Bolívia para o Atlântico, via Amazonas
 Mas, ao ser concluída, a borracha entrava em decadência.

Na Amazônia, o engenheiro inglês Stephan Collier comanda com mãos de ferro a construção da ferrovia, liderando um grupo de homens tratados como animais no meio de uma floresta selvagem, ameaçados por toda a sorte de infortúnios como ataques indígenas, assombrações e principalmente doenças. A construção ficou à cargo do americano Percival Farquhar. 

O americano Percival Farquhar (1864-1953) foi um dos grandes jogadores do mercado financeiro mundial nos primeiros anos do século XX. "Naquele tempo, eu podia levantar dinheiro para o que quisesse", disse ele ao seu biógrafo no final da vida. Entre 1904 e o início da I Guerra Mundial, Farquhar teve acesso livre aos maiores investidores da Europa e dos Estados Unidos e canalizou um enorme capital para ferrovias, portos, frigoríficos, companhias elétricas e de comunicações, loteamentos, fazendas. 
Não foi em sua terra natal que ele montou esses negócios. Foi no Brasil. Em 1913, ele controlava algo em torno de 50 milhões de libras, o que o tornava o principal administrador de recursos estrangeiros no país. A mais célebre – e polêmica – de suas realizações foi justamente a Estrada de ferro Madeira–Mamoré. A "ferrovia do diabo" foi uma insanidade: prodígio de engenharia que ligou o nada a lugar nenhum, como se disse na época, ela custou a vida de 1.500 trabalhadores e jamais deu o lucro esperado.
Como diz a metra do samba: "E em sucata o meu sonho terminou, vou voltar pra onde não fui...!"


Hoje, restam as lembranças das histórias contadas pelos trabalhadores que sobreviveram à construção e deixaram seus relatos intrigantes, heróicos inclusive. Há pouco tempo, essa história ilustrou a tela da TV através da minissérie Mad Maria, da rede globo, baseada na obra "Mad Maria" de Márcio Souza.

 A abertura mostra o que há de registros fotográficos da construção da ferrovia!
Atualmente os restos da ferrovia dormem em meio à floresta, em meio aos pesadelos vividos durante sua construção. Existem projetos de revitalização e utilização como ferramenta turística da região, porém, como todos sabemos, não somos um povo acostumado a valorizar a história!
O desfile da Grande Rio contribuiu para tirar o pó dessa página da nossa história! A cicatriz ainda está lá, para que jamais seja esquecida. Estamos fazendo nosso papel!
 Uma boa semana a todos!

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