Sou Cultura viva, pulsando no compasso da bateria! Sou sangue do gigante Brasil!

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sábado, 26 de fevereiro de 2011

"Quem quer comprar? Eu vou vender!!"

Inaugurando os enredos de São Paulo no blog, buscamos a Pérola Negra, escola em ascenção no carnaval
paulistano dos últimos anos. Em 2007 apresentou o enredo "Venda como arte, comércio como sua principal representação". O carnavalesco era Jorge Freitas, acostumado a enredos com temas históricos. 


O Samba é muito alegre, descontraído, agradável para os espectadores:

Canta Pérola Negra
Me leva a sonhar
Na arte de amar, sou especial
Brilhando neste carnaval

O sangue dos fenícios eu herdei, naveguei,
Negociei, fiz riquezas
A mãe terra, natureza
Elo desta arte milenar
Já fui pirata, ouro e prata eram lei
O oriente despertou minha cobiça
Surgiram cores do oceano, me encantei

Pintou no mar, caravelas ao vento
Ao ancorar vou desvendar
E explorar este solo sagrado
Abençoado, pelas mãos do criador

E foi assim, que o tupiniquim
Viu a fauna e a flora
Levadas embora
Pra que tanta ambição
Tesouros, belezas
Enriqueceram a coroa portuguesa (e hoje)
Hoje a loucura é geral
Comércio do bem, comércio do mal
 
A Vila Madalena a negociar
Faz a pergunta que não quer calar
Quem quer comprar..eu vou vender
Só não vendo meu amor, jóia rara por você

Vejamos alguns pontos importantes abordados no desfile:

O sangue dos fenícios eu herdei, naveguei,
Negociei, fiz riquezas


Os fenícios foram responsáveis pela formação de uma rica civilização que ocupou uma faixa do litoral mediterrâneo que adentrava o território asiático até as montanhas do atual Líbano e graças ao seu posicionamento geográfico, acabou viabilizando o contato comercial com várias caravanas nômades.

O desenvolvimento do comércio entre os fenícios aconteceu primordialmente através da realização de trocas de mercadorias. Com o passar do tempo, a expansão das atividades privilegiaram a fabricação de moedas que facilitaram a realização de negócios. 

Sob tal aspecto, devemos ainda destacar a grande complexidade do artesanato entre os fenícios. Madeiras, tapetes, pedras, marfim, vidro e metais eram alguns dos produtos que atraíam a atenção dos habilidosos artesãos fenícios.

Outra interessante contribuição advinda do comércio entre os fenícios foi a elaboração de um dos mais antigos alfabetos de toda História. Por meio de um específico conjunto de símbolos, os fenícios puderam empreender a regulação de suas atividades comerciais e expandir as possibilidades de comunicação entre as pessoas.

A mãe terra, natureza
Elo desta arte milenar

A agricultura em diversas civilizações foi a responsável pelo desenvolvimento comercial por causa 
da produção de excedentes que logo passariam a ser comercializados. Fica aqui a dica para quem se interessa mais sobre a história da agricultura: Desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel no
Rio de Janeiro levará para a Sapucaí o enredo  “Parábola dos Divinos Semeadores” , contando a 
história do desenvolvimento das práticas agrícolas.

Já fui pirata, ouro e prata eram lei
O oriente despertou minha cobiça
Surgiram cores do oceano, me encantei

As famosas e cobiçadas especiarias da China, Índias, enfim, eram alvo de comércio e daqueles que
viviam da pilhagem e dos saques, os tradicionais piratas. Outra dica interessante sobre os piratas é o enredo
da Imperatriz Leopoldinense no ano de 2003, “Nem todo o pirata tem a perna de pau,
                                                      o olho de vidro e a cara de mau”.

Pintou no mar, caravelas ao vento
Ao ancorar vou desvendar
E explorar este solo sagrado
Abençoado, pelas mãos do criador

Durante os séculos XV e XVI, os europeus, principalmente portugueses e espanhóis, lançaram-se nos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico com dois objetivos principais : descobrir uma nova rota marítima para as Índias e encontrar novas terras. Este período ficou conhecido como a Era das Grandes Navegações e Descobrimentos Marítimos.

No século XV, os países europeus que quisessem comprar especiarias (pimenta, açafrão, gengibre, canela e outros temperos), tinham que recorrer aos comerciantes de Veneza ou Gênova, que possuíam o monopólio destes produtos. Com acesso aos mercados orientais - Índia era o principal - os burgueses italianos cobravam preços exorbitantes pelas especiarias.

O canal de comunicação e transporte de mercadorias vindas do oriente era o Mar Mediterrâneo, dominado pelos italianos. Encontrar um novo caminho para as Índias era uma tarefa difícil, porém muito desejada. Portugal e Espanha desejavam muito ter acesso direto às fontes orientais, para poderem também lucrar com este interessante comércio.

Um outro fator importante, que estimulou as navegações nesta época, era a necessidade dos europeus de conquistarem novas terras. Eles queriam isso para poder obter matérias-primas, metais preciosos e produtos não encontrados na Europa. Até mesmo a Igreja Católica estava interessada neste empreendimento, pois, significaria novos fiéis.
 
Os reis também estavam interessados, tanto que financiaram grande parte dos empreendimentos marítimos, pois com o aumento do comércio, poderiam também aumentar a arrecadação de impostos para os seus reinos. Mais dinheiro significaria mais poder para os reis absolutistas da época.




E foi assim, que o tupiniquim
Viu a fauna e a flora
Levadas embora
Pra que tanta ambição
Tesouros, belezas
Enriqueceram a coroa portuguesa

Mais uma vez as escolas de samba prestam um serviço de esclarecimento sobre a história nacional, recheada de momentos de exploração, que infelizmente em muitos momentos é esquecida. Nossas 
riquezas foram levadas e os habitantes originais da terra, os "donos da terra!" como a Unidos da 
Tijuca cantou em seu samba antológico de 1999 ficaram a ver navios, ou melhor, a ver caravelas 
portuguesas saírem carregadas de riqueza em direção ao velho mundo.


Hoje a loucura é geral
Comércio do bem, comércio do mal

A escola finaliza o enredo caractrizando o comércio atual e podemos observar no desfile a referência
às bolsas de valores e o comércio eletrônico, utilização dos cartões de crédito, o dito dinheiro de 
plástico que tanto facilita nossa vida.


A Vila Madalena a negociar
Faz a pergunta que não quer calar
Quem quer comprar..eu vou vender
Só não vendo meu amor, jóia rara por você 

Enfim, um passeio pelo comércio ao longo da história da humanidade e a conclusão de que o amor
pela própria escola "não tem preço!", já para todas as outras coisas...
O próprio espetáculo das escolas de samba sobrevive, em muitos casos através da comercialização de
fantasias para desfile, venda de camisetas, cds, ingressos para a avenida, etc.




O desfile apresentou alguns problemas técnicos em carros alegóricos, mas seu planjemanto e enredo
foram muito bem pensados pelo carnavalesco da escola. 
Obrigado a todos pelo grande número de visitas e até a próxima semana.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

"1808" e o aniversário de 200 anos!

Após a virada do milênio a internet e os modernos meios de comunicação e
registro de acontecimentos transformaram o modo de registrar os eventos. 
O carnaval não ficou de fora dessa transformação, haja vista a quantidade de
fotografias que registram cada momento dos desfiles.
Aproveitando essa fonte de informação, abordaremos essa semana um tema que
repetiu-se várias vezes no mesmo ano.
A vinda da família real portuguesa ao Brasil em 1808 apareceu no enredo de
pelo menos três escolas no ano de 2008 no Rio de Janeiro. São Clemente,
Mocidade e Imperatriz Leopoldinense abordaram esse tema, direta ou indiretamente 
em seus desfiles. O próprio título do enredo já nos coloca diante de uma grande discussão
histórica: devemos nos referir a esse fato como vinda da família real ou
fuga da família real portuguesa?
Tire suas próprias conclusões!
Veremos alguns pontos abordados no desfile dessas escolas:
 De início, o que a França teria a ver com a vinda da família real
portuguesa ao Brasil? Bom, usaremos as palavras dos próprios carnavalescos,
responsáveis pelo enredo:





"Em Portugal, outra rainha, Dona Maria
A louca não podia governar
Delirava temendo a revolução
E entrega o reino à João
Regente assim se fez, e o imperador francês
Ordena a invasão

Ou ficam todos
Ou todos se vão
Embarcar nessa aventura
E "Au revoir Napoleão""
(Imperatriz Leopoldinense 2008)
...em Portugal, vivia outra rainha Maria, que recebeu ao nascer o nome de
Maria Francisca Isabel Josefa Antônia Gertrudes Rita Joana. Casou-se com
o tio e reinou de 1777 a 1816. Tendo ajudado e acolhido inúmeros nobres
franceses perseguidos pela Revolução Francesa, e sabedora do destino de
Maria Antonieta, esta Maria apavorada com o grande abalo sofrido pelo
absolutismo, ficou ensandecida e viu-se obrigada a passar o poder a seu
filho João. O abalo foi tão forte que ate hoje é conhecida como D. Maria,
a louca. Seu filho João não havia sido criado para assumir o papel de rei,
mas como seu irmão mais velho faleceu, e sua mãe não podia mais governar,
assumiu o cargo de príncipe regente.
Enquanto isso, na França, sobe ao poder um homem, que apesar de não ser
de família nobre era entretanto muito ambicioso – Napoleão Bonaparte. Ele
 dirige o país a partir de 1799, e se torna Imperador de França em 1804.
Seu sonho era se tornar o mais poderoso monarca de Europa e portanto,
precisa expandir seus domínios. Era um grande estrategista e conseguia
vitórias e conquistas, ampliando território. Nada mais interessante que a
península ibérica. Assim, decide invadir Portugal.
D. João, apoiado pelos ingleses, viu que a única saída plausível para não
ser humilhado pelo Napoleão, era partir para a América do Sul, mais
precisamente para o Brasil. Quem iria nesta aventura? O Príncipe regente
aconselha-se com a mãe, que apesar de ter momentos de insanidade, responde
muito sensatamente ao seu filho: “Ou vão-se todos ou ficam todos”. Pois
vão se todos, decide D. João. Numa correria nunca vista, preparam-se os
fidalgos para uma viagem inesperada. Uma espécie de fuga em massa, que
frusta os desejos de Napoleão, que ordena a invasão. Há duvidas quanto ao
número de fidalgos que bateram em retirada. Seriam cinco mil, dez mil,
quatro mil e quinhentos? O fato é que saíram de Portugal tendo como destino
o Brasil. E assim, veio a família real, o pai, a mãe, D. Carlota e os
filhos Pedro e Miguel e mais as infantas D. Maria Teresa, Maria Isabel,
Maria Francisca, Maria Assunção, Isabel Maria e Ana de Jesus Maria.

(enredo de Rosa Magalhães - Imperatriz Leopoldinense 2008)
Bom, fuga ou não, o fato é que a coroa veio ao Brasil e aqui recebeu
um tratamento muito especial:

"Para orgulho da Coroa Portuguesa
O reino então se mudou
Meu Rio se transformou
Num grande centro de "real" beleza
Um verdadeiro paraíso tropical

Entrada régia com florais e esculturas
O ritual do beija-mão é sem igual
O amor impera em sublime poesia
E no palácio a alegria é geral"

(Samba da São Clemente 2008)
As "entradas régias" de que tratam a letra, segundo o carnavalesco da escola,
Milton Cunha, seriam:

...deslumbrantes Entradas Régias (Joyeuse Entrée) na Europa deste tempo,
verdadeiros festivais de arte efêmera, nas quais o brilho e a ostentação
dos cortejos terrestres, com ruas engalanadas por arcos de triunfo,
panejamentos, e cortejos aquáticos, com o transporte fluvial e todos os  
demais atavios inerentes, ambos iluminados pelos fogos de artifício,
constituiram-se (e voltam à moda, agora) “nos mais significativos conjuntos
 de festividades laicas, pela brilhante magnificência produzida para
afirmação política através da arte efêmera, afirmação de temas como o bom
governo, a justiça eqüitativa do príncipe, a exaltação dinástica, a
legitimação da figura do rei, e a celebração das virtudes dos soberanos,
sempre com soluções cenográficas”.
(Enredo São Clemente 2008)

Afora as mudanças culturais, as econômicas relembram a "rainha malvada"
da fábula da Grande Rio de 1995: a Inglaterra! Sempre ela! Afinal de contas,
auxiliar na vinda/fuga real até o Brasil tinha seus custos, os quais a
Inglaterra haveria de cobrar, logo cedo!

"Como navegar é preciso, das águas límpidas da Baía de Guanabara, emergem
Os portos abertos às Nações Amigas, o segundo momento flutuante desta Régia
 Entrada. A política administrativa de D. João, visava implantar um Império
que demonstrasse poder, exibisse prestígio e garantisse segurança aos seus
súditos. Resumindo, pelo mar chegava o sonho de um Império luso-americano,
com sede no Rio de Janeiro."
(Enredo São Clemente 2008)

Todas essas transformações no Rio de Janeiro foram acompanhadas e retratadas
pela missão artística francesa cujo maior expoente foi Jean-Baptiste Debret!

"No Rio de Janeiro aportaram caravelas
Trazendo a Familia Real
Progresso em cores combinadas
Debret retratava a transformação"
(Mocidade 2008)

"Adeus colônia, pois o Rio é capital
Viagens pitorescas... "colorindo" a cidade
"Pinta" a arte francesa"
(São Clemente 2008)


 Neste ano especial para a cidade do Rio de Janeiro e para o nosso país (2008), a história se 
fez presente mais uma vez de forma marcante. Trata-se de nossa história e por mais
satirizada e muitas vezes ridicularizada que ela seja, devemos sempre lembrá-la
uma vez que muito do que somos é reflexo do que já fomos ou do que nos foi 
imposto. O certo é que o que já ficou registrado não pode mais ser apagado, mas disso 
podemos retirar boas lições afim de não repetirmos erros e buscarmos um futuro melhor!

Confiram trechos dos desfiles dessas 3 escolas. 
São Clemente 2008
Mocidade 2008

Imperatriz Leopoldinense 2008
 Obrigado pela participação e boa semana a todos!
 


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O ciclo da Borracha!

Esta semana o enredo revivido será da Grande Rio, uma homenagem à escola mais
prejudicada com o incêndio ocorrido essa semana na cidade do samba.
Em 1995 a escola apresentou o enredo: "Estória para ninar um povo patriota!",
de autoria do carnavalesco Lucas Pinto. 
A Sinopse (resumo do enredo) criada é, na verdade uma fábula, um conto de fadas. 
O termo Estória, ao invés de História,  é usado no título  justamente por se tratar de 
uma criação ficcional, misturando fatos reais e imaginários.
O autor fez um trabalho belíssimo, como veremos:

Estória para ninar um povo patriota

            Havia um Imperador, chamado Brasil, dono de uma imensa terra, num continente,
onde existiam outros imperadores. Suas terras eram tantas que o Imperador Brasil, possuía
reis que governavam pedaços de suas terras. Elas eram muitas realmente, se dividiam em regiões
que recebiam o nome de seu rei.
            Um desses reis chamava-se Amazonas. Esse rei era responsável pelo ecossistema mundial
de responsabilidade do Imperador Brasil. O reino de Amazonas era belíssimo, coberto por matas
virgens, grandiosos rios, que durante milênios, viveram desconhecidos do resto do mundo.
O rei Amazonas tinha uma filha, a princesa com nome Manaus. Ela vivia no meio da mata
 Amazônica entre rios e igarapés. Tinha como companhia as florestas, seus mistérios e lendas das
tribos indígenas - povos que viviam na terra de seu pai.     
      Um dia, a princesa Manaus viu brotar dos sulcos que os índios faziam numa determinada
árvore o sangue da terra, um líquido branco e viscoso do qual os índios faziam bolas para as crianças
brincarem. Mal sabendo que ali estava parte da grande fortuna que se encontrava escondida no reino
de seu pai, que faria o Imperador Brasil ser rico e respeitado em todo o mundo.
Muito distante dali, havia uma poderosa rainha de nome Inglaterra, que tinha um espelho
que falava com ela. Todos os dias a Rainha Inglaterra perguntava ao espelho se existia alguém mais
rica do que ela ao que o espelho sempre lhe respondia que não.
            Certo dia, ao perguntar ao espelho se existia alguém mais rica do que ela o espelho
respondeu-lhe que em um continente distante um Imperador tinha descoberto em suas terras,
 governadas por um rei de nome Amazonas, um líquido branco que valia tanto ou mais que o ouro.
A cada dia que se passava, o Imperador Brasil, ia conquistando prestígio perante o mundo.
O Rei Amazonas começava a desenvolver seu reino, através de sua filha, a princesa Manaus, que, a cada
dia se enriquecia mais e se embelezava mais, dentro dos padrões mais requintados da Europa.
            A Rainha Inglaterra mandou então um emissário vir observar o que se passava por essas terras
e fiscalizar a vida da Princesa Manaus. Ao chegar as terras do Rei Amazonas, o emissário viu que a
princesa Manaus vivia o auge da bela época, que possuía um belíssimo teatro, casas de chá, coqueterias
e que, no meio da selva do Rei Amazonas, uma riquíssima cidade transbordava de luxo, onde os Barões da
Borracha acendiam seus charutos Havana, com notas de 500 mil Réis.
A Rainha Inglaterra arquitetando um plano, construiu um navio e a este deu o nome do Rei
“Amazonas”. Certo dia, ela levou, sem que ninguém soubesse, setenta mil espécies da planta que brotava
o líquido que valia tanto ou mais que ouro, para serem plantadas em seus terrenos na Malásia. Tal
atitude caiu como veneno para a Princesa Manaus, fazendo-a adormecer num sono profundo durante quase
dois séculos, coberta pela vasta floresta Amazônica.
            Durante todo esse tempo que a Princesa Manaus permaneceu em seu sono encantado, vítima do
veneno da Rainha, as fadas madrinhas Flora (responsável por todas as florestas e matas), Fauna (responsável
por todos os seres viventes da floresta) e Eco (responsável pelo ar e a camada de ozônio da Terra),
lançaram-lhe uma promessa: que a Princesa Manaus haveria de despertar desse sono profundo, através de um beijo que lhe haveria de ser dado por um príncipe espacial.
Passaram-se muitos anos em que a Princesa Manaus viveu adormecida e quase esquecida. Até
que um dia ela foi visitada pelo Príncipe da Tecnologia, que tinha ouvido falar sobre ela. Ao ver a
Princesa, não hesitou em beijá-la, acordando-a para seu futuro. Um futuro de progresso, seu, de seu pai,
o Rei Amazonas, e de seu Imperador, Brasil.
Lucas Pinto
A criação dessa fábula retrata brilhantemente uma época da história brasileira, o ciclo da borracha!
A letra do samba é, da mesma forma, de fácil entendimento, conta a história de forma muito fácil e
explicativa. Na avenida o desfile foi morno, o samba não explodiu a avenida, mas a história foi
bem tratada neste enredo, e isso é o que buscamos aqui.
No vídeo abaixo podemos ter uma idéia do visual do desfile e acompanhar a letra do samba enredo
no vídeo da transmissão.Segue o link:
 
Estória para ninar um povo patriota

Nessa história em verde e amarelo
A Grande Rio deu um toque tão sutil,
Nas terras do rei Amazonas
Do continente do imperador Brasil

Vamos viajar, nas matas de tantas riquezas
Entre rios e igarapés
Vivia Manaus, a linda princesa
Das lendas que os índios conviviam
O artista resolveu criar
Neste enredo de encantos e magias
Onde tem o boto rosa com o dom de conquistar

Um brinquedo de criança
Virou tesouro profundo
Despertando a cobiça
Do outro lado do mundo

Perguntou:
Espelho, espelho meu
Será que existe alguém mais rica do que eu?
Minha rainha poderosa,
Manaus é um tesouro muito maior que o seu
A Inglaterra mandou, um emissário pra cá
Tudo que viu ele voltou pra confirmar
Teatro, casa de chá, boemia,
Muito mais a fidalguia tinha aos seus pés
Os barões da borracha tinham ousadia
De acender os charutos com 500 mil réis

Um navio sorrateiro apareceu
Levando quase ao mundo inteiro
As seringueiras, com isso a princesa adormeceu
Entre fadas-madrinhas, no seu sono prosseguia
Pra despertar do berço da ecologia
E o príncipe encantado, Manaus ele beijou
Para tecnologia a princesa acordou

Embala eu, embala eu
Pátria mãe, gentil
No despertar deste sono
Encontrei meu sonhado Brasil...
Essa importante página da história do Brasil foi brilhantemente retratada nessa estória da
Acadêmicos do Grande Rio em 1995. A riqueza gerada pela borracha na região amazônica 
pode ser evidenciada pelo fato de Manaus ter sido a primeira cidade brasileira a receber
luz elétrica, fato pouco conhecido. Além disso, a primazia no bonde elétrico também foi de Manaus.
A passagem do samba que fala dos barões da borracha acendendo charutos com notas de dinheiro 
nos dão uma ideia dos recursos que a exploração das seringueiras gerava. 
E, infelizmente, em mais um episódio da nossa história acabamos sendo ludibriados e novamente 
entra em cena a poderosa Inglaterra, que nos levou as seringueiras e jogou água na quente Manaus do período áureo da borracha. 
A linda princesa Manaus como diz o samba só viria a se recompor com a industrialização trazida pela
criação da zona franca de Manaus já bem próximo ao século XXI. 
De herança dessa época gloriosa ficou a arquitetura do imponente Teatro Manaus, que será enredo da Unidos de Vila Maria no carnaval 2011 de São Paulo. Vale a pena conferir e conhecer um pouco mais dessa bonita história. 
Espero que gostem e na próxima semana um enredo do carnaval paulistano, até lá!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

União!

Este espaço lança sob o mundo das escolas de samba um pensamento positivo e de força, desejando que a união, historicamente presente em eventos de necessidade se faça presente mais uma vez!
Não somente em relação ao episódio do incêndio na cidade do samba, acontecido hoje, mas ao incêndio que afetou a Alegria da Zona Sul na semana passada e as enchentes que atribularam os preparativos do carnaval de São Paulo.
Como diz o samba exaltação da Unidos de Vila Isabel: "Vamos renascer das cinzas...!"
O Show tem que continuar!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

1500 anos em 80 minutos!

Essa semana apresetamos o enredo que talvez tenha apresentado a maior quantidade de eventos e referências históricas da Marquês de Sapucaí: 
Vila Isabel 1998 - "Lágrimas, Suor e Conquistas num mundo em Transformação!".
Este desfile, assim como o samba que o embalou não estão entre os mais comentados, nem surgem nas listas de "antológicos", mas para a finalidade deste blog, cai como uma luva. Antes de aprofundarmos a História presente no desfile, vale a pena conferir o samba, muito bem interpretado pelo grande "Gera", tradicional intérprete de Vila Isabel no programa Botequim da Manchete:
 


Segue a letra, acompanhem:

O homem no tempo guerreia
Seu rastro semeia ambição
É a chama da conquista acesa no seu coração
"A luz de Roma se apaga"
Daí se propaga a transformação
O clero, a bem da verdade,
Julgava o herege na inquisição

Baila no ar a esperança
O homem avança no velho mar (bis)
Um horizonte de riquezas
Fazia a Europa prosperar

Da burguesia surge o renascer
Valorizando ideais
Aniquilando o jeito de ser
Da soberania dos feudais
A sede da cobiça deságua na deriva das águas
A chegada triunfal
Às Índias, ao novo continente
E a este paraíso tropical
Velas ao vento! O rei mandou
O navegante outras terras conquistou
Tantos sem terra ficaram!
A sabedoria o poder contestou
Raios divinais iluminaram a humanidade
Na França movimentos radicais
Deram ao mundo outra mentalidade
No girar da coroa, a liberdade
Igualdade ecoa no meu cantar (bis)
A Vila, numa boa, agita o Carnaval
É fraternidade universal

O homem...


Muitas vezes não contamos com todo o material criado pelas escolas na elaboração de seus enredos, sobretudo quando se tratam de desfiles ocorridos antes da revolução causada pela internet e a propagação de informações pelo mundo afora. Em 1998, o carnavalesco da Vila Isabel era Jorge Freitas, campeão do carnaval 2010 de São Paulo com a escola Rosas de Ouro. Vejamos o que escreveu Jorge Freitas na sinopse de 1998:

"LÁGRIMAS, SUOR E CONQUISTAS NO MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO"

G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL

Com este tema, pretendemos mostrar que os objetivos de uma sociedade deveriam ser conquistados a qualquer preço. Quando nos referimos às lágrimas, estamos pensando nas vidas perdidas e no desespero dos homens que, ao saírem em busca de conquistas, tinham apenas a certeza da saída.
Os monstros e os demônios deveriam ser dominados. As lágrimas das conquistas seriam transformadas em glória, significando a supremacia de um povo sobre o outro. O suor representa o trabalho dos menos favorecidos: dos conquistados, que entregariam suas vidas ao conquistador para que este pudesse transformar cada gota de sangue, suor e lágrima em ouro, açúcar, tabaco, drogas do sertão, etc...
Através da cruz, espada e pólvora o homem ia dominando a raça "inferior". As conquistas se fizeram, acima de tudo, através da dominação, da invasão, da submissão e da desintegração de uma sociedade esmagada pela indiferença, por uma aparente "superioridade".
O absolutismo é soberano, mas a idéia de justiça surge através de uma luz, que simboliza ideais de liberdade,
igualdade e fraternidade e assim o mundo conquista a sua transformação.

Jorge Freitas
Carnavalesco

Os eventos históricos específicos não são explanados claramente, mas analisando os trechos do samba enredo em pequenas sequências, podemos identificar várias referêcias mais claramente. Vejamos então:

"O homem no tempo guerreia
Seu rastro semeia ambição
É a chama da conquista acesa no seu coração"

É da natureza humana a competitividade, a disputa, e porque não a ambição, o desejo de buscar mais, querer mais, descobrir e desvendar segredos e mistérios. Assim como pode ser positiva essa busca por mais, ela também pode e efetivamente foi, ao longo da história, negativa para muitos povos, alvos dessa ambição.
Nesse ponto devemos nos sentir citados neste enredo, já que a América foi e para alguns ainda continua sendo, alvo da ganância dos povos ditos do "primeiro mundo", enfim...

""A luz de Roma se apaga"
Daí se propaga a transformação"

O início do desfile traz na comissão de frente os povos bárbaros, que tiveram um papel importante no processo que levou ao fim do Império Romano e no surgimento de uma nova sociedade na Europa.

"O clero, a bem da verdade,
Julgava o herege na inquisição"

Um enredo que trate sobre a idade média, mesmo que de forma superficial, não deve deixar de citar o papel da igreja. Um dos pilares da sociedade feudal, deixou na história a marca do seu tribunal do Santo Ofício, ou Inquisição, como na letra do samba. A influência dessa instituição não foi esquecida no desfile, tendo grande destaque, como não poderia deixar de ser.

"Baila no ar a esperança
O homem avança no velho mar
Um horizonte de riquezas
Fazia a Europa prosperar"

O refrão central do samba faz referência à busca de novas reservas de riquezas de fácil exploração e o início do período conhecido como "grandes navegações". Os europeus lançaram-se ao mar na busca de novas rotas comerciais que pudessem baratear custos e gerar maiores lucros.

"Da burguesia surge o renascer
Valorizando ideais
Aniquilando o jeito de ser
Da soberania dos feudais"

O renascimento cultural, através do financiamento da produção artística por parte dos burgueses, chamados de Mecenas, traz à luz da História esse grupo social, surgido nos burgos, que passou a ter um papel superior aos antigos senhores feudais, que baseavam sua dominação na coerção econômica, social, psicológica (com o apoio da igreja). Surge um novo momento do pensamento humano, valorizando o pensamento, a razão, o humano, em detrimento do divino, religioso.

"A sede da cobiça deságua na deriva das águas
A chegada triunfal
Às Índias, ao novo continente
E a este paraíso tropical
Velas ao vento! O rei mandou
O navegante outras terras conquistou"

Todo esse processo de mudanças, transformações (como diz o enredo) levou o europeu à nova rota comercial para as Índias e à América, o novo mundo, recheado de riquezas, que deveriam ser levadas o mais depressa possível aos palácios europeus. O processo de incentivo às viagens marítimas por parte dos soberanos, levou à novas descobertas em técnicas de navegação, observação dos astros, construção de embarcações, etc.

"Tantos sem terra ficaram!"

Uma breve frase carregada com o maior simbolismo para nós, habitantes do novo mundo, uma vez que aqueles que ficaram sem as terras viviam aqui com suas magníficas sociedades. Tratam-se de Incas, Maias e Astecas, os mais conhecidos, além de centenas de povos que foram dizimados por aquela cobiça "natural" dos humanos europeus.

"A sabedoria o poder contestou
Raios divinais iluminaram a humanidade
Na França movimentos radicais
Deram ao mundo outra mentalidade
No girar da coroa, a liberdade
Igualdade ecoa no meu cantar (bis)
A Vila, numa boa, agita o Carnaval
É fraternidade universal"

A razão e o combate ao antigo regime a través do iluminismo e da Revolução Francesa fecham o desfile, lembrando a luta pelo fim dos privilégios feudais, a sobrecarga do terceiro estado (burgeusia e camponeses) na França, que sustentavam o clero e a nobreza, muitas vezes decadente.
A luta pela vitória das idéias e o desejo de transformação foram buscados na História para que simbolizassem o desejo da própria Vila Isabel em seu desfile, que desejava melhorar seu desempenho no carnaval. Isso foi dito no decorrer do desfile pelos comentaristas uma vez que a escola desfilava com características visuais diferentes de seu histórico passado.
Foi a História iluminando a Vila Isabel em 1998, inspirando a tão desejada transformação da escola!




Alguns momentos do desfile, apreciem:
Para que todos possam entender melhor o modo de organização do desfile de uma escola de samba, buscamos o nome das alas e uma breve caracterização de cada uma, conforme apresentado no desfile pela televisão. O desfile de 1998 da Vila Isabel foi assim organizado


·        Comissão de frente: “Barritus” – Grito de Guerra dos Bárbaros

·        Carro Abre-alas: As invasões dos bárbaros do norte europeu ao império Romano
Os povos germânicos vieram de diversas partes da Europa  e ocupavam as fronteiras do império romano. No início, a convivência foi pacífica, mas depois começaram as invasões. Duraram cerca de dois séculos e destruíram a unidade do império romano.
 Destaque do carro: Odim – Deus germânico

·        Ala 1: Bárbaros
Grandes, barbudos, usavam vestimentas de linho grosseiro ou peles de animais, viviam em tribos, lutavam com lanças, escudos, guerreiros valentes, viviam da caça e agricultura rudimentar.

·        Ala 2: Veneração germânica
Cultuavam deuses escandinavos como Thor e Odim.

2º Setor do desfile
Feudalismo – Novo sistema social, político e econômico que marcou a Europa.

·        Ala 3: Castelo Medieval
Eram fortalezas de pedra da Europa

·        Carro 2 – Cavaleiro Medieval
Cavaleiros eram nobres que dedicavam sua vida a lutar pelo seu Senhor, usavam armaduras pesadas, grandes cavalos, lanças e espadas.
 Destaque do Carro – Nobreza

·        Ala 4: Anjos do Bem
Compromisso medieval com Deus e com a Igreja, esta estava presente na vida de todos, na hora do batismo, casamento e morte. Durante mil anos a Europa teve uma só fé: o cristianismo.

·        Ala 5: Anjos do Mal
O diabo, com imagem de portador do mal, sempre existiu no imaginário do ser humano e das religiões, sob o nome de Imara, Igli, Lúcifer, Satã, Belzebu, Nefestófeles.

o       2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Fogo da Inquisição
A Igreja criou o tribunal do santo ofício, ou inquisição, para identificar e punir quem fosse contra os dogmas do catolicismo. Muitos condenados iam para a fogueira.

·        Ala 6: Chamas da Purificação
Julgamento pelo tribunal da inquisição – Quem não assumisse o compromisso com a religião era considerado pecador e o fogo era o modo de limpar os pecados destes.

3º Setor

·        Ala 7: O grande despertar
Cruzadas – Guerras santas contra os muçulmanos que dominavam a terra santa onde Jesus Cristo nasceu. A partir do século XI as cruzadas incentivaram a navegação e o comércio com povos do outro lado do mundo.

·        Carro 3 – Idade das Trevas
      Deus era a luz e sem ele o homem viveria na mais completa escuridão
Destaque do carro: Luz Divina

·        Ala 8: África – Marfim, ouro e escravos
A fé religiosa era o motivo maior das Cruzadas, mas as expedições também visavam a conquista de poder, riquezas e territórios, comerciantes das cidades italianas como Gênova e Veneza em busca de novos mercados.

·        Ala 9: Índia – Cravo, Canela e Pimenta
Cruzadas ajudaram o comércio com o Oriente, especiarias, assim como sedas e tapetes passaram a ser vendidos na Europa.

·        Ala 10: Arábia – Tapetes e Perfumes
Árabes invadiram a Europa depois que a rota do Mediterrâneo foi tomada das mãos dos muçulmanos.

·        Ala 11: China – Sedas e Porcelanas
Dos viajantes venezianos, o mais conhecido foi Marcopolo, que com o pai e o tio foi até a China, a viagem durou 20 anos, de lá trouxe sedas e porcelana. Na volta escreveu um livro que influenciou navegadores como Colombo.

·        Carro 4 – Comércio das Especiarias
Destaque do carro: Luxúria

4º Setor

·        Ala 12: A Transformação

o       1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Razão Renascentista
      A partir do século XVI a Idade Média passou a ser vista como um período de estagnação, retrocesso e ignorância, houve uma revalorização da cultura clássica greco-romana

·        Ala 13 (Bateria): Harmonia Macro-cósmica

·        Ala 14: Renascimento das artes

·        Ala 15: Teoria Heliocêntrica
      O polonês Copérnico estudou o movimento dos astros e concluiu que era o Sol e não a Terra o centro do universo. Não foi fácil convencer o mundo e derrubar uma crença que durava catorze séculos

·        Ala 16: Sem informações sobre essa ala.

·        Ala 17: De olho no mundo

·        Carro 5 – Renascença
      O movimento das artes e das letras foi o resultado de um mundo em transformação
Destaque do carro: Tributo à renascença

·        Ala 18: Cobiça espanhola

·        Ala 19 (Baianas): Divisão do Mundo
       Tratado de Tordesilhas, divisão entre Portugal e Espanha.

·        Ala 20: Tropicália Brasileira

·        Carro 6 – Tratado de Tordesilhas
       Grande Eldorado: América Espanhola e Paraíso Tropical: América Portuguesa

·        Ala 21: Absolutismo

·        Ala 22: Direito Divino

·        Ala 23: Nobreza

·        Carro 7 – Palácio do Esplendor

·        Ala 24: Sem informações sobre essa ala.

·        Ala 25: Revolução Francesa

·        Carro 8 – A luz da Transformação – Revolução Francesa
Destaque do carro: Arauto da era contemporânea

As informações sobre as alas foram retiradas da narração do desfile pelos apresentadores da televisão. Por esse motivo, algumas informações foram perdidas em momentos de entrevistas, comentários, etc.

Espero que todos tenham gostado do enredo. Participem com dúvidas, comentários sobre o desfile, curiosidades em geral.
Obrigado e até a próxima atualização!