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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

"1808" e o aniversário de 200 anos!

Após a virada do milênio a internet e os modernos meios de comunicação e
registro de acontecimentos transformaram o modo de registrar os eventos. 
O carnaval não ficou de fora dessa transformação, haja vista a quantidade de
fotografias que registram cada momento dos desfiles.
Aproveitando essa fonte de informação, abordaremos essa semana um tema que
repetiu-se várias vezes no mesmo ano.
A vinda da família real portuguesa ao Brasil em 1808 apareceu no enredo de
pelo menos três escolas no ano de 2008 no Rio de Janeiro. São Clemente,
Mocidade e Imperatriz Leopoldinense abordaram esse tema, direta ou indiretamente 
em seus desfiles. O próprio título do enredo já nos coloca diante de uma grande discussão
histórica: devemos nos referir a esse fato como vinda da família real ou
fuga da família real portuguesa?
Tire suas próprias conclusões!
Veremos alguns pontos abordados no desfile dessas escolas:
 De início, o que a França teria a ver com a vinda da família real
portuguesa ao Brasil? Bom, usaremos as palavras dos próprios carnavalescos,
responsáveis pelo enredo:





"Em Portugal, outra rainha, Dona Maria
A louca não podia governar
Delirava temendo a revolução
E entrega o reino à João
Regente assim se fez, e o imperador francês
Ordena a invasão

Ou ficam todos
Ou todos se vão
Embarcar nessa aventura
E "Au revoir Napoleão""
(Imperatriz Leopoldinense 2008)
...em Portugal, vivia outra rainha Maria, que recebeu ao nascer o nome de
Maria Francisca Isabel Josefa Antônia Gertrudes Rita Joana. Casou-se com
o tio e reinou de 1777 a 1816. Tendo ajudado e acolhido inúmeros nobres
franceses perseguidos pela Revolução Francesa, e sabedora do destino de
Maria Antonieta, esta Maria apavorada com o grande abalo sofrido pelo
absolutismo, ficou ensandecida e viu-se obrigada a passar o poder a seu
filho João. O abalo foi tão forte que ate hoje é conhecida como D. Maria,
a louca. Seu filho João não havia sido criado para assumir o papel de rei,
mas como seu irmão mais velho faleceu, e sua mãe não podia mais governar,
assumiu o cargo de príncipe regente.
Enquanto isso, na França, sobe ao poder um homem, que apesar de não ser
de família nobre era entretanto muito ambicioso – Napoleão Bonaparte. Ele
 dirige o país a partir de 1799, e se torna Imperador de França em 1804.
Seu sonho era se tornar o mais poderoso monarca de Europa e portanto,
precisa expandir seus domínios. Era um grande estrategista e conseguia
vitórias e conquistas, ampliando território. Nada mais interessante que a
península ibérica. Assim, decide invadir Portugal.
D. João, apoiado pelos ingleses, viu que a única saída plausível para não
ser humilhado pelo Napoleão, era partir para a América do Sul, mais
precisamente para o Brasil. Quem iria nesta aventura? O Príncipe regente
aconselha-se com a mãe, que apesar de ter momentos de insanidade, responde
muito sensatamente ao seu filho: “Ou vão-se todos ou ficam todos”. Pois
vão se todos, decide D. João. Numa correria nunca vista, preparam-se os
fidalgos para uma viagem inesperada. Uma espécie de fuga em massa, que
frusta os desejos de Napoleão, que ordena a invasão. Há duvidas quanto ao
número de fidalgos que bateram em retirada. Seriam cinco mil, dez mil,
quatro mil e quinhentos? O fato é que saíram de Portugal tendo como destino
o Brasil. E assim, veio a família real, o pai, a mãe, D. Carlota e os
filhos Pedro e Miguel e mais as infantas D. Maria Teresa, Maria Isabel,
Maria Francisca, Maria Assunção, Isabel Maria e Ana de Jesus Maria.

(enredo de Rosa Magalhães - Imperatriz Leopoldinense 2008)
Bom, fuga ou não, o fato é que a coroa veio ao Brasil e aqui recebeu
um tratamento muito especial:

"Para orgulho da Coroa Portuguesa
O reino então se mudou
Meu Rio se transformou
Num grande centro de "real" beleza
Um verdadeiro paraíso tropical

Entrada régia com florais e esculturas
O ritual do beija-mão é sem igual
O amor impera em sublime poesia
E no palácio a alegria é geral"

(Samba da São Clemente 2008)
As "entradas régias" de que tratam a letra, segundo o carnavalesco da escola,
Milton Cunha, seriam:

...deslumbrantes Entradas Régias (Joyeuse Entrée) na Europa deste tempo,
verdadeiros festivais de arte efêmera, nas quais o brilho e a ostentação
dos cortejos terrestres, com ruas engalanadas por arcos de triunfo,
panejamentos, e cortejos aquáticos, com o transporte fluvial e todos os  
demais atavios inerentes, ambos iluminados pelos fogos de artifício,
constituiram-se (e voltam à moda, agora) “nos mais significativos conjuntos
 de festividades laicas, pela brilhante magnificência produzida para
afirmação política através da arte efêmera, afirmação de temas como o bom
governo, a justiça eqüitativa do príncipe, a exaltação dinástica, a
legitimação da figura do rei, e a celebração das virtudes dos soberanos,
sempre com soluções cenográficas”.
(Enredo São Clemente 2008)

Afora as mudanças culturais, as econômicas relembram a "rainha malvada"
da fábula da Grande Rio de 1995: a Inglaterra! Sempre ela! Afinal de contas,
auxiliar na vinda/fuga real até o Brasil tinha seus custos, os quais a
Inglaterra haveria de cobrar, logo cedo!

"Como navegar é preciso, das águas límpidas da Baía de Guanabara, emergem
Os portos abertos às Nações Amigas, o segundo momento flutuante desta Régia
 Entrada. A política administrativa de D. João, visava implantar um Império
que demonstrasse poder, exibisse prestígio e garantisse segurança aos seus
súditos. Resumindo, pelo mar chegava o sonho de um Império luso-americano,
com sede no Rio de Janeiro."
(Enredo São Clemente 2008)

Todas essas transformações no Rio de Janeiro foram acompanhadas e retratadas
pela missão artística francesa cujo maior expoente foi Jean-Baptiste Debret!

"No Rio de Janeiro aportaram caravelas
Trazendo a Familia Real
Progresso em cores combinadas
Debret retratava a transformação"
(Mocidade 2008)

"Adeus colônia, pois o Rio é capital
Viagens pitorescas... "colorindo" a cidade
"Pinta" a arte francesa"
(São Clemente 2008)


 Neste ano especial para a cidade do Rio de Janeiro e para o nosso país (2008), a história se 
fez presente mais uma vez de forma marcante. Trata-se de nossa história e por mais
satirizada e muitas vezes ridicularizada que ela seja, devemos sempre lembrá-la
uma vez que muito do que somos é reflexo do que já fomos ou do que nos foi 
imposto. O certo é que o que já ficou registrado não pode mais ser apagado, mas disso 
podemos retirar boas lições afim de não repetirmos erros e buscarmos um futuro melhor!

Confiram trechos dos desfiles dessas 3 escolas. 
São Clemente 2008
Mocidade 2008

Imperatriz Leopoldinense 2008
 Obrigado pela participação e boa semana a todos!
 


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